UBM da capital paulista vai aonde as mulheres estão

por Cláudia Rodrigues*

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A União Brasileira de Mulheres (UBM) na Capital paulista encerrou suas atividades de 2017 com o Natal Rosa, no dia 16 de dezembro, reunindo mais de 200 mulheres que levaram seus filhos para um dia de congraçamento e diversão. Para além do lazer, o dia marcou o encerramento da campanha mundial "16 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência contra as Mulheres", criada pela ONU Mulheres em 1991 e organizada anualmente em mais de 150 países, com objetivo de denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo e estimular que a sociedade debata esse grave problema.

Nosso calendário sobre o tema teve início em 8 de novembro com um debate sobre Feminicídio, com a presença de aproximadamente 160 pessoas, incluindo alunos da universidade que sediou a atividade – a Unip da Aclimação. Em seguida, fizemos rodadas de palestras em quatro locais da zona Norte e um na Leste, alcançando um perfil potencial de vítimas de violência que, além de conviverem com o sofrimento que historicamente esse crime impinge às mulheres de todas as classes sociais, padecem da falta de mecanismos básicos que as estimulem a fazer denúncias. Mulheres que residem em bairros da periferia paulistana com altos índices de pobreza, formados por maioria de população afrodescendente, carentes de serviços públicos essenciais, atingidos por todos os tipos de violência e assolados pelo desemprego.

Tudo isso, somado à ausência de delegacias especializadas, casas de acolhimento e outras políticas públicas de enfrentamento, produz um cenário em que as vítimas não se sentem seguras a denunciar os agressores. E o problema vai se agravando e “perpetuando”. É necessário que os governos – em todas as esferas –, os partidos políticos e a sociedade como um todo tomem para si o combate às violências (todos os tipos de violência) cometidas contra as mulheres.

O ano de trabalho da UBM na Capital de São Paulo começou com um seminário de planejamento – o segundo desde que a entidade foi criada, em 2015 – no qual as principais pautas foram apontadas. Em seguida, tivemos participação expressiva nas atividades do 8 de Março, em atuação conjunta com outras organizações feministas da cidade, e na 2ª Conferência Municipal de Saúde das Mulheres, em abril, com cerca de 100 representantes, sendo 80 delegadas.

A preparação do 1º congresso municipal da UBM, realizado em julho, alcançou 800 mulheres e mobilizou 23 núcleos em todas as regiões paulistanas. Ainda em julho, participamos do congresso estadual da UBM. E em agosto comparecemos ao congresso nacional da nossa entidade em Salvador (Bahia) com 32 delegadas escolhidas pelas bases municipais.

Tudo isso entremeado com as lutas locais nos bairros ou na cidade de São Paulo, que vive dias terríveis sob o governo do prefeito João Dória, que põe em prática um projeto de privatizar a cidade e eliminar serviços públicos. Para citar um exemplo, o prefeito decidiu extinguir as escolas de tempo integral (CEIs) tão necessárias às famílias paulistanas dos bairros mais pobres, criando dois turnos onde antes havia um. Em vez de abrir novas vagas, ele “multiplica” artificialmente as que já existem e que já eram insuficientes. Dessa forma, o projeto político do prefeito aprofunda as desigualdades sociais e joga nas costas das mulheres a responsabilidade pela educação das crianças. Ou seja, ele exime o poder público de suas obrigações elementares e ainda limita as possibilidades de as mães conseguirem emprego, já tão escasso com a grave crise econômica que arruinou o país.

A UBM manteve-se firme na defesa dos direitos dos negros e na denúncia das violências cometidas contra as mulheres e os jovens negros e pobres das periferias, que sofrem crimes de racismo em grau muito maior que outras parcelas da população. Também mantivemos alta a bandeira dos direitos da população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Nossa entidade combate o racismo, o preconceito e a discriminação em todas as suas formas e ambientes; e engrossa a luta cotidiana pelos direitos humanos e o respeito à diversidade de gênero.

As lutas políticas de resistência ao golpe político-institucional perpetrado por Temer e sua gangue também contaram com a participação da UBM-Capital. Estivemos presentes em manifestações contra a draconiana reforma da Previdência, que, graças à pressão das ruas, teve a votação adiada para 2018 por falta de votos necessários à aprovação neste ano. Portanto, já iniciaremos o novo ano com o seguimento da mobilização anti-Temer e seus projetos de destruição de todas as conquistas sociais, educacionais, trabalhistas, feministas e científicas que a imensa maioria da população brasileira teve nos anos de governos populares e em outros períodos históricos do Brasil.

No último bimestre, como se toda a avalanche antissocial e antidemocrática em andamento no país não fosse suficiente, surge a PEC 181, que criminaliza o direito ao aborto em casos que atualmente já são autorizados legalmente (o chamado aborto legal se tornará crime se o projeto for aprovado). A UBM entrou em campo, e, embora a mobilização dos movimentos de mulheres não tenha sido em larga escala nas ruas, provocou adiamento da votação na comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a proposta. Mais um assunto para ficarmos vigilantes em 2018. Logo no começo do ano faremos o planejamento anual da entidade, e nele vamos sistematizar os desafios para mais um ciclo de lutas, que, junto com a atuação política emancipacionista, precisa abarcar a estruturação material e financeira da UBM na cidade.

Sem se afastar das bandeiras e do trabalho que vinham sendo a tônica da UBM na capital em diversos segmentos sociais – aí incluídas estudantes, profissionais liberais e população feminina das regiões centrais da cidade –, registramos uma incursão mais acentuada rumo aos rincões paulistanos onde estão as mulheres mais duramente prejudicadas pelo programa político-econômico neoliberal implantado por Temer, Alckmin e Doria, que massacra vidas, desestrutura famílias, desalenta a juventude, destrói direitos, impõe insegurança, aumenta a violência e joga sobre os brasileiros todo tipo de mazela. Mulheres, a luta continua!