Mônica Custódio: A Consciência Negra na conjuntura do golpe

Estamos vivendo uma agenda de retrocesso do ponto de vista nacional e internacional, consequência de uma política que ainda segue o refluxo da crise econômica mundial de 2007. Que desestabilizou a economia global, e que também retrata um novo momento de mobilidade política e econômica internacional.

Por Mônica Custódio*

Ato denuncia genocídio de jovens negros, pobres e da periferia

Com essa nova geopolítica, caminham juntas lutas emancipatórias e de recrudescimento. O recrudescimento é a face do neoliberalismo que fortalece a extrema direita, que se materializa no avanço do imperialismo sobre as soberanias, suas populações, e seus recursos renováveis, minerais, fósseis e hídricos, a exemplo de sucessivos conflitos e migrações em várias regiões do mundo. A América Latina é o que temos de mais próximo dessa realidade, tendo como referência o Brasil e a Venezuela.

Nessa conjuntura de golpe, o momento é de fortalecer os movimentos sociais, em especial o sindical, buscarmos a formação individual e coletiva, aprofundarmos os conhecimentos teóricos e práticos sobre os duelos nas lutas que cercam ideologicamente os movimentos sociais e reafirmar o sindicalismo classista. Buscarmos entendimento e capilaridade junto aos sindicatos, coletivos, federação e ou associação e núcleos. Entendendo o refluxo imposto à população brasileira, dentre ela nós trabalhadores e trabalhadoras, que somos de maioria negra, e que tivemos lado, e defendemos e garantimos a quarta vitória do povo brasileiro. O povo botou a cara, lutou e defendeu a representação do seu governo, e nossa democracia, fomos às ruas contra o impeachment, sofremos o golpe, e temos pago caro, pela nossa posição consequente e avançada. Desta forma, o preço é alto e se materializa com a retirada de direitos trabalhistas, individuais e coletivos. Estamos tendo retrocesso em várias frentes, com a perda de cidadania, humanidade, e até com a própria vida. Mas é em um cenário como esses que precisamos ter um papel inteligente, forte e de unidade de ação.

A CTB na comemoração dos seus 10 anos vem se edificando e tendo um papel protagonista e de fundamental importância na busca pela unidade dos trabalhadores, em defesa da nação, do soerguimento da indústria, entendendo esta como força motriz para o desenvolvimento nacional, e em defesa do emprego e da dignidade daqueles que sustentam esse país. E neste cenário, a relevância dos movimentos sociais e das organizações políticas que sustentam e asseguram a democracia, como bem maior de um povo e de um estado nação.

130 anos da Abolição

Mônica Custódio
O ano que se aproxima traz um cenário de grande significância, um ano eleitoral, e marca os 130 anos da Abolição da escravatura. A abolição lenta (Lei da Terra 1850), gradual (Lei dos sexagenários 1885) e segura (Lei do ventre livre 1871), que ensaiou uma “liberdade” que ainda não cantou. O último país a constituir a abolição, com a maior população negra fora de África, e que a contragosto, e com todo eugenismo, genocídio e miscigenação forçada, os pretos e os pardos são maioria da população brasileira conforme o censo de 2010. Após 130 anos da abolição nossa busca continua a mesma, lutamos pela nossa humanização, contra a marginalização, a exclusão estrutural das relações de trabalho, saúde, moradia e pelo reconhecimento do nosso papel na formação econômica, histórico e cultural de nosso país.

É em meio a esta conjuntura que a ONU apresenta como objetivo para a redução dos conflitos, pela busca da igualdade e valorização das vidas negras o tema: “Brasil na década dos afrodescendentes: Reconhecimento, Justiça, Desenvolvimento e Igualdade de Direitos’. O tema não representa a conjuntura na qual o governo ilegítimo de Temer inseriu a população negra. Precisamos reagir ao desmonte do estado, ao racismo institucional, que nos traz violência cotidiana de forma direta e indireta, seja pela falta de tratamento digno e humano que ceifa tantas vidas nos hospitais públicos principalmente de nossas mulheres jovens e idosos. A violência da PEC 215, que discorre sobre as remoções dos povos indígenas e quilombolas, negando nossa contribuição histórica. Podemos citar o aumento da violência contra as mulheres, e em especial as mulheres negras, citamos o genocídio de nossa juventude, sendo a taxa de homicídio uma das mais altas do mundo. De acordo com o Atlas da Violência em 2017, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil 71 são negras.

Podemos falar também das diferenças salariais que são abissais. Em geral a média das diferenças salariais entre homens negros e não negros, chegam a 50%, entendendo que nas relações de gênero esse percentual se torna maior.

No dia Nacional da Consciência Negra deste ano chamamos para um dia de reflexão, denúncia, mobilização e ação, aonde as coisas acontecem, nas cidades, nos bairros, nas casas e onde mais o racismo institucional se apresenta com mais força, que é onde nossa população tem sofrido intolerância religiosa, lesbofobia, homofobia, feminicídio, e o genocídio de toda forma.

Assim seguimos na guerrilha com o objetivo em:

Defesa das Terra Indígenas e Quilombolas.

Da vida de nossa juventude.

Pela Liberdade Religiosa, e em defesa do Sagrado, Contra a Intolerância Religiosa.

Pelo direito ao trabalho digno.

Pelo salário igual, para trabalho de igual valor – Convenção 100 da OIT.

Pelo direito e acesso à educação digna e de qualidade.

Defesa de nossa soberania e recurso naturais/Meio Ambiente.

Saudações Quilombolas! Viva Nizinga, Zumbi, Tereza de Benguela, e vida longa a você heroínas e heróis que leva a luta antirracismo, em defesa de nossas vidas, por quê vidas negras importam!!

*Mônica Custódio é secretária de Promoção da Igualdade Racial da CTB.