Período pré-eleitoral já levou à morte 25 políticos no México
Entre os dias 1º e 9 de janeiro, mais de 200 pessoas foram assassinadas no México por causa de acertos de contas entre narcotraficantes, latrocínios (roubos seguidos de morte) e por outros casos de violência. Três estados concentram o maior número de mortes: Chihuahua, Guerrero e Baja California Sur – este último, um dos mais visitados por turistas estrangeiros.
Publicado 13/01/2018 12:04
O banho de sangue neste início de 2018 é um reflexo de anos de recrudescimento da violência do país. Mesmo antes de incluir os dados de dezembro, que ainda não foram divulgados, 2017 ficou marcado como o ano mais violento da história do México, com mais de 26,5 mil mortes.
O tema é um dos mais discutidos no país neste momento, com a aceleração da corrida eleitoral que vai culminar com as eleições presidenciais no dia 1º de julho. O líder das pesquisas, Andrés Manoel López Obrador, do partido de esquerda Morena, prometeu em várias entrevistas que vai acabar com a violência, sem entrar em detalhes de como pretende cumprir.
Outro problema é que os próprios políticos são alvo da violência dos criminosos. Desde setembro, quando se deu o pontapé inicial para as eleições, 25 foram assassinados, segundo uma contagem realizada pelo site Huffington Post. As vítimas eram prefeitos, candidatos, assessores e militantes. Os dados já fazem deste processo eleitoral o mais violento do século – e ainda faltam mais de cinco meses para as eleições.
O caso mais recente foi o de Miguel Ángel Licona Islas, ex-prefeito de uma pequena cidade no estado de Hidalgo. Ele foi morto em casa, junto com o filho, por matadores de aluguel que fugiram sem deixar pistas. Um estudo feito pela Associação Nacional dos Prefeitos revela que 111 prefeitos, ex-prefeitos e prefeitos eleitos foram mortos no México desde 2006.
Multiplicação do número de traficantes
Os cartéis de tráfico de drogas estão por trás das mortes dos políticos, como o Jalisco Nueva Generación ou o Sinaloa – considerados hoje os mais temidos do país. Os criminosos matam políticos essencialmente por duas razões. A primeira é porque, nos últimos anos, o México assistiu a uma fragmentação dos cartéis. Se, há 20 anos, existiam sete grupos produzindo, movimentando e vendendo drogas no país, hoje existem mais de 400. A mudança fez com que eles passassem a operar de forma mais local, e os resultados das eleições têm influência direta nos seus negócios.
O segundo motivo é que os assassinatos servem para mandar recados para os candidatos. Historicamente, a violência aumenta em ano de eleições no México. Os acordos feitos pelos bandidos com políticos corruptos precisam ser revalidados, e matar pessoas é uma forma de mostrar poder antes de se sentar à mesa para negociar.
Desde o final do ano passado, começaram a surgir pelas ruas das cidades de todo o país corpos com recados escritos na pele, pendurados em pontes em locais de grande movimento e cabeças decapitadas. O cenário de horror deve se acentuar ainda mais até o dia 1º de julho, quando será eleito o novo presidente do país.
Despreparo da polícia
Para completar, a polícia não demonstra estar preparada para lidar com essa situação. Em sua maioria, são homens e mulheres que ganham um salário muito baixo, são mal treinados e estão mal equipados. Prova disso é que, no ano passado, foram mortos 530 policiais – o maior número desde 2011. Destes, 181 foram executados e 83 perderam a vida durante enfrentamentos com os bandidos. Os demais morreram em acidentes, emboscadas e sequestros, entre outros motivos.
Em meados de dezembro, os senadores aprovaram um projeto chamado Lei de Segurança Interior, um conjunto de medidas apresentadas pelo governo do presidente Enrique Peña Nieto para objetivo combater o aumento na violência. Um dos pontos mais polêmicos da lei é a permissão para que o exército seja acionado e entre em ação imediatamente caso a situação em alguma cidade saia do controle.
Usar o exército para combater o tráfico de drogas não traz boas lembranças para os mexicanos. Em 2006, o então presidente Felipe Calderón declarou a Guerra aos Narcotraficantes cerca de um mês depois de tomar posse. A ação tinha como base o uso das forças armadas e uma boa intenção: diminuir o poder dos traficantes de drogas. O problema, naquela época, é que nem o governo nem os militares estavam preparados para a tarefa. O resultado foi um saldo de mais de 220 mil pessoas mortas por causa dos conflitos, em um prazo de apenas 10 anos – mais do que o que foi registrado pelos Estados Unidos durante toda a Guerra do Vietnã.
Por isso, os mexicanos, em sua maioria, não gostaram da nova lei. Os pontos que mais desagradam são a permissão para que o exército realize sem aviso prévio ações para prevenir situações de risco, a possibilidade de suspender os direitos dos cidadãos em casos de graves perturbações da ordem pública e dar às forças armadas a prerrogativa de realizar trabalhos de espionagem. A lei foi duramente criticada pelas Organizações das Nações Unidas e pela Comissão Nacional dos Direitos Humanos do México.