Papa alerta para o perigo das "fake news"

Papa diz que notícias falsas revelam intolerância e aumentam arrogância e ódio e apela aos jornalistas para que desempenhem um papel central na defesa da verdade; afirma ainda que a propagação de conteúdos falsos pode ter "consequências nefastas"

Papa Francisco, em visita à Polônia

O Papa Francisco alertou nessa quarta-feira (24) para as consequências nefastas das notícias falsas, considerando que revelam a presença de atitudes intolerantes e que a sua divulgação tem como único resultado "o risco de dilatar a arrogância e o ódio".

As notícias falsas são analisadas na mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, a 13 de Maio, divulgada nesta quarta-feira pela Santa Sé, que tem como título: A verdade vos tornará livres. Fake news e jornalismo de paz.

O Papa considera que a divulgação das chamadas "fake news" pode visar objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos e apela aos jornalistas que desempenhem um papel central na defesa da verdade. "Gostaria, assim, de contribuir para o esforço comum de prevenir a difusão das notícias falsas e para redescobrir o valor da profissão jornalística e a responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdade".

No entender do Papa Francisco, "nenhuma desinformação é inofensiva; antes pelo contrário, fiar-se daquilo que é falso produz consequências nefastas". "Mesmo uma distorção da verdade aparentemente leve pode ter efeitos perigosos."

As "fake news", acrescenta Jorge Bertoglio, tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável, não tanto pela lógica de partilha que caracteriza os meios de comunicação social, mas pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que facilmente se acende no ser humano.

"As próprias motivações econômicas e oportunistas da desinformação, têm a sua raiz na sede de poder, ter e gozar, que, em última instância, nos torna vítimas de um embuste muito mais trágico do que cada uma das suas manifestações: o embuste do mal, que se move de falsidade em falsidade para nos roubar a liberdade do coração" refere o Papa.

Na mensagem, o Papa manifesta a importância de educar para a verdade, explicando que esta significa ensinar a discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de cada pessoa. O Papa defende que a paz é a verdadeira notícia e que o melhor antídoto contra as falsidades são as pessoas que livres de ambição estão prontas a ouvir e, através de um diálogo sincero, deixam emergir a verdade.

"Se a via de saída da difusão da desinformação é a responsabilidade, particularmente envolvido está quem, por profissão, é obrigado a ser responsável ao informar, ou seja, o jornalista, guardião das notícias", vincou o Papa. Aos jornalistas, o pontífice envia a mensagem de que no mundo actual estes desempenham não apenas uma profissão, mas uma missão.

No meio do frenesim das notícias, defende o Papa Francisco, o jornalista "tem o dever de lembrar que, no centro da notícia, não está a velocidade em comunicá-la nem o impacto sobre a audiência, mas as pessoas". "Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas. Por isso, a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz" disse.

Jorge Bertoglio convida os jornalistas a promover um jornalismo de paz, ressalvando, contudo, que esta expressão não deve ser entendida como uma defesa de um jornalismo "bonzinho", que negue a existência de problemas graves e assuma tons melífluos".

Para o Papa, o jornalismo deve existir "sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas". O Papa diz-se assim defensor de um jornalismo feito por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas, e no mundo, "são a maioria que não têm voz" e ainda que se comprometa na busca das causas reais dos conflitos.