Ilegítimo, Temer diz que o problema do Brasil é a falta de confiança

Durante lançamento da agenda institucional da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), nesta quarta-feira (11), Michel Temer fez um discurso em que pediu otimismo para encarar as dificuldades do país, porque o Brasil não está em “desgraça absoluta”.

Michel Temer - Marcos Corrêa/PR

No mesmo dia em que o IBGE divulga dados que apontam que, em 2017, os 10% da população com os maiores rendimentos detinham 43,3% da massa de rendimentos do país, enquanto a parcela dos 10% com menores rendimentos detinha 0,7% desta massa, Temer disse que a “recuperação” da economia está avançando.

“Vamos tocar em frente. Se nós tivéssemos uma desgraça absoluta no país, paciência, mas nós não estamos, meus senhores. Está caindo a inflação, caindo os juros, nós estamos recuperando empregos, nós estamos recuperando a economia graças, devo dizer, à atividade do agronegócio”, enfatizou ele.

Mas de acordo com dados do IBGE, o pessimismo tem fundamento: as pessoas que faziam parte do 1% da população brasileira com maiores rendimentos recebiam, em média, R$ 27.213, em 2017. Esse valor é 36,1 vezes maior que o rendimento médio dos 50% da população com os menores rendimentos (R$ 754,00). Na região Nordeste essa razão foi de foi 44,9 vezes e na região Sul, 25 vezes.

Para Temer, o problema do brasileiro não é o desemprego, que atinge mais de 13 milhões de pessoas, ou a queda na renda, mas o mau humor e o pessimismo.

“Temos que ser otimistas. Temos dificuldade, nós temos, outros países têm, mas o Brasil voltou. E com apoio dos cooperados e cooperativas voltou para ficar e para ser, se Deus quiser, uma grande cooperativa”, completou.

Sem citar nenhum caso específico, Temer voltou a pregar respeito à Constituição e às normas jurídicas. Apesar de ter dado um golpe contra o mandato da presidenta eleita Dilma Rousseff, do qual era vice, articulando o impeachment sem crime de responsabilidade para tomar o poder, Temer diz que “quando a Constituição não é obedecida, quando a Constituição é desobedecida, ela perde autoridade”.

O golpe que o levou ao poder é justamente a causa desse desrespeito. Mas no discurso, Temer diz que a Constituição “é a primeira autoridade do Estado, isso acaba derruindo o fenômeno da autoridade, o que não é útil para o país”, disse Temer.

Ilegítimo e rejeitado pela população, visto que as pesquisas seu governo tem apenas 3% a 4% de aprovação, Temer diz que a palavra-chave é “confiança”.

“Tem uma palavra-chave que é a palavra ‘confiança’ que alicerça o cooperativismo e é exatamente a palavra confiança que alicerça os avanços que temos tido no Brasil”, disse. “Se não houver confiança, não há essa credibilidade geradora desses índices, se não há confiança não cairia inflação ao nível que caiu, não cairiam os juros ao nível que caiu”, completou Temer, talvez falando para si mesmo.