Nicarágua cria Comissão da Verdade para investigar onda de violência

Neste domingo (6), a Assembleia Nacional da Nicarágua instalou uma Comissão da Verdade, Justiça e Paz para investigar a onda de manifestações violentas que vem acontecendo no país desde 18 de abril. De acordo com o presidente do parlamento, Gustavo Porras, a comissão terá o período de funcionamento de três meses.

Nicarágua - manifestações violentas - Divulgação

Gustavo Porras, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), disse que “a comissão tem total liberdade para fazer as investigações pertinentes”, e explicou que o organismo é composto por “cinco pessoas de grande prestígio” na Nicarágua, incluindo juristas, intelectuais e religiosos.

Trata-se do padre Francisco Uriel Molina, do vice-reitor da Universidade Nacional Autónoma (Manágua), Jaime Francisco López, da ativista indígena Mirna Cunningham, de Adolfo José Jarquín (ex-vice-procurador dos direitos humanos na Nicarágua) e do intelectual e acadêmico Cairo Amador.

Onda de violência e diálogo

Na última semana, a capital nicaraguense, Manágua, foi palco de várias mobilizações de apoio ao plano de diálogo proposto pelo presidente da República, Daniel Ortega, com mediação da Conferência Episcopal, para tentar conter a onda de violência que assola o país desde 18 de abril e até agora já causou mais de 40 mortes.

Os protestos violentos começaram na Universidade Politécnica, em Manágua, e se expandiram pela cidade. Os manifestantes rejeitam a reforma da previdência proposta pro Ortega, esta, porém, interfere mais no lucro dos empresários que na contribuição dos trabalhadores.

Depois de uma onda de muita violência, onde os manifestantes atearam fogo em diversos prédios públicos e até em uma biblioteca, e causaram 20 mortes, o presidente revogou a medida, a fim de reestabelecer o diálogo e a paz. No entanto, os atos de violência continuaram, o que levou alguns setores a concluir que tratava-se apenas de uma desculpa para, na verdade, desestabilizar o governo de Ortega.

Apesar dos apelos do governo e da Conferência Episcopal da Nicarágua, que assumirá o papel de mediadora e testemunha no diálogo nacional proposto, nos últimos dias registaram-se mais ações de vandalismo em espaços públicos, ataques a populares e a sedes da FSLN.