Rentismo, que apostou no golpe, vê incerteza e estagnação da direita

Historicamente, em ano eleitoral a movimentação dos partidos para a construção de alianças é intensa. No entanto, o ambiente de crise política, protagonismo judicial e a crise econômica criaram dificuldades para a execução do plano arquitetado com o golpe de 2016.

Por Dayane Santos

Meirelles - Foto: José Cruz / Agência Brasil

A grande mídia pauta o debate eleitoral pelas questões jurídicas, tirando o foco das questões que tratam sobre os programas e propostas que ponssam apontar saídas. Essa estratégia é porque, diferentemente do que o mercado planejou, a direita está sem alternativa eleitoral.

Segundo relatório produzido por bancos internacionais e investidores estrangeiros, o elevado grau de incerteza eleitoral brasileira e a “estagnação” de presidenciáveis da direita, gera preocupação do rentismo. 

Em entrevista à Folha, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), sintetizou o motivo da "estagnação" da direita e apontou as perspectiva para o campo progressista. “Temos chance de ganhar a eleição porque o pós-impeachment deu errado. O fracasso do Temer é o fracasso da alternativa que se gestou a nós”, avaliou o governador.

A seis meses das eleições, as candidaturas da direita continuam fragmentadas. Utilizando um termo do jornalista Franklin Martins, a direita se transformou num verdadeiro mingau no processo eleitoral. Antes do golpe, PSDB tinha como postulantes à presidência o senador Aécio Neves (MG), o governador Geraldo Alckmin (SP), além do senador José Serra (SP) que tentava cavar um espaço.

Destes, apenas Alckmin está na disputa e em condições bem adversas. Michel Temer, que chegou a ensaiar uma candidatura para demonstrar força e sair das cordas, já fala e negocia uma aliança com os tucanos.

O mercado quer um candidato "reformista", mas a exemplo de Temer, não basta ser entreguista e apresentar a agenda, tem que cumprir o plano.

Efeito Lula

Demonstrando que o processo jurídico contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atende aos interesses políticos do mercado, em um vídeo distribuído para clientes, o economista-chefe do BNP Paribas no Brasil, Marcelo Carvalho, resume o momento político a partir da eventual saída do ex-presidente da disputa eleitoral.

De acordo com matéria publicada pelo jornal Estadão, o economista apontou três eixos de preocupação com o cenário eleitoral: saber para onde vão os votos do ex-presidente; se o deputado Jair Bolsonaro (PSL) atingiu, de fato, o "teto" de votos; e se Alckmin pode ainda decolar.

"Historicamente, é por volta de abril e maio que o eleitor do Sudeste começa a olhar mais de perto para a eleição. A gente está olhando se nas pesquisas o Alckmin começa a subir até meados de maio", disse Carvalho no vídeo, destacando ainda que, caso o Alckmin não decole, ele será substituído pelo plano B, o ex-prefeito João Doria.

O banco de investimentos MUFG também aponta o fator Lula como preocupante. Em documento, o banco chama a atenção para o resultado das pesquisas eleitorais, que mesmo com Lula preso e sob intenso bombardeio midiático, mantém a dianteira o favoritismo.

"Em um cenário sem o ex-presidente [Lula], pesquisas podem ser muito incertas, uma vez que o voto dessas pessoas pode colocar um candidato inesperado no segundo turno e mudar o resultado final apontado nos levantamentos. Em resumo, há um alto grau de incertezas nas eleições", diz o texto.

Já para o banco norte-americano JP Morgan, a preocupação é com as candidaturas que eles tentam camuflar como sendo de "centro", que ainda estão estagnadas. "A baixa performance de todos os candidatos de centro reformistas reforça os desafios no nosso cenário de referências market friendly", diz trecho do documento se referindo aos candidatos pró-mercado.

O JP Morgan ainda admite que o fim do financiamento empresarial de campanha reduziu o poder de manipulação do mercado, fazendo com que não apenas partidos "concentrem seus esforços nas candidaturas que têm mais chances de ganhar, mas também serão necessárias alianças para a disputa presidencial".

Para o estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno, a chapa ideal para o mercado seria Alckmin e o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

"À medida que o Alckmin e o Meirelles não decolam nas pesquisas, estão estagnados com intenções de voto de um dígito, aumentam-se as chances de que se eleja um governo reformista, mas com base fraca no Congresso", declarou ao Estadão.

Apesar desse cenário de incertezas apontado pelo mercado financeiro, a fragmentação da direita apresenta divergências, mas que podem ser dirimidas com uma ação mais invasiva do rentismo, assim como foi feito no golpe de 2016. Mas o que eles não conseguem garantir é a legitimidade, pois, o mercado não tem voto.

Em desespero, Jair Bolsonaro tenta sinalizar ao mercado que pode ser a alternativa. Ele afirma que, se eleito, assumirá a agenda econômica de reformas: desmonte da Previdência, manutenção do teto de gastos com cortes nos programas sociais e privatização em massa.

Bolsonaro, que bateu continência à bandeira dos EUA durante uma viagem ao território norte-americano, garantiu em entrevista ao site Poder 360, que manterá a politica de privatização do petróleo do governo Temer.

O preferido

O preferido do rentismo, Henrique Meirelles tenta emplacar a sua candidatura como cabeça de chapa. Disse em entrevista que mantém sua intenção em ser candidato a presidente da República pelo MDB e não considera a hipótese de ser vice em uma chapa encabeçada por outro presidenciável.

Questionado sobre a possibilidade fechar um acordo com o PSDB, como tem se especulado, Meirelles disse que está disposto a "ajudar o partido em qualquer circunstância", mas que não acredita que o MDB abrirá mão da cabeça de chapa. "Não há razão para uma posição secundária", disse.

Apesar de taxativo, encabeçar a chapa não depende apenas da vontade dele e, a julgar pela sua trajetória junto aos bancos como executivo (foi presidente mundial do BankBoston, do Conselho da J&F Investimentos, conselheiro da Lloyd's, entre outras instituições financeiras), Meireles pode mudar de ideia num curto espaço de tempo. Esse discurso é porque ele se baseia na tese de que um candidato de centro – que ele acredita ser – estará no segundo turno e que outros nomes do mesmo campo não tem um potencial de crescimento de votos maior do que ele.

"A minha candidatura é a de presidente. Não estou considerando a hipótese de ser vice-presidente porque não estou convencido de que outros candidatos do que eu chamo do centro democrático têm um potencial de votos realmente maior do que o nosso", declarou o ex-ministro, durante debate promovido pela Insper Jr. Consulting.

Apesar da pose, Meirelles tem até agora 1% nas intenções de voto em pesquisas eleitorais e, assim como Temer – que acumula recorde de rejeição -, repete aos quatro ventos que tem voto.

No Brasil de Meirelles, o brasileiro vive uma "sensação de bem-estar" com o crescimento da economia que, segundo ele, vai beneficiar candidatos reformistas e evitar a vitória pela quinta vez consecutiva do campo progressista.

Enquanto diz que que não abre mão da cabeça de chapa numa possível aliança com os tucanos, nos bastidores Meirelles tenta se garantir como candidato. Manteve conversas com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, pré-candidato do MDB ao governo de São Paulo que tem como slogan de campanha interna: o PSDB "já deu o que tinha que dar" no Estado.

Diante da aproximação de Temer com líderes tucanos, Skaf tenta dissolver o movimento para assegurar a sua candidatura. Meirelles, por sua vez, tenta ganhar forças para barrar a aliança tucana.

A trajetória de Michel Temer no MDB já nos diz de que lado ele fica quando o assunto é negociação com os tucanos. Só Meirelles finge não saber.