Manuela: Ninguém quer assumir o legado de Temer

Entrevistada pelo jornalista Vinicius Peraça, do jornal Diário Popular, de Pelotas (RS), a deputada estadual Manuela D'Ávila (PCdoB), falou sobre sua pré-candidatura à Presidência da República, o combate às desigualdades entre mulheres e homens e a necessidade do debate político na disputa eleitoral. Manuela é otimista em relação ao desempenho da esquerda e 

Manuela - Foto: Jô Folha/DP

 e defendeu uma mudança política em nível nacional como alternativa para a retomada dos investimentos na Metade Sul do Estado.

Confira os principais trechos:

A senhora tem dito que sua pré-candidatura é um espaço para combater desigualdades sociais e de gênero. Este será o mote da candidatura?

A missão do próximo presidente do Brasil é combater a desigualdade, garantir um país livre e com oportunidades iguais aos brasileiros e brasileiras. É muito diferente ser mulher e ser homem no Brasil. Ser negro ou indígena e ser branco. As mulheres, por exemplo: após a maternidade, 50% não conseguem emprego nos primeiros anos de vida dos filhos. São alijadas das carreiras cientícas e tecnológicas. Se a gente pensa em um projeto de desenvolvimento a partir da recomposição da atividade industrial, precisamos pensar que não teremos indústria mais moderna se as mulheres não fazerem parte.

A senhora teve dois mandatos em Brasília e recentemente optou por voltar ao Estado, para a Assembleia. O pensamento lógico seria uma candidatura a governadora. Por que a optou pela Presidência?

Existiu um movimento muito grande para eu concorrer a governadora, o que não fazia parte dos meus planos. É um nome bastante competitivo e eu sei disso. Mas não acredito que existam saídas para o Rio Grande do Sul sem o debate da saída da crise do Brasil. Achei que (a pré-candidatura à Presidência) era uma missão boa, pois a eleição cumpre vários papéis, mas o principal é debater com a sociedade os rumos do país.

O atual cenário tem muitas pré-candidaturas, com grande divisão de votos. As exceções são Bolsonaro, em um cenário sem Lula, e o próprio expresidente, caso concorra. A senhora acredita que haverá união de candidaturas?

Vai afunilar, mas não tanto. Acho que é natural que um, dois ou três candidatos não concorram no nal,
que haja composição. Não acredito em candidaturas únicas. Nós (esquerda) estamos muito melhor posicionados que eles (direita), pois temos o primeiro colocado (Lula), outros três candidatos que pontuam e juntos pontuamos mais do que eles. O primeiro colocado deles é a opção mais atrasada da política brasileira. Nenhum deles quer assumir o legado do Temer. Eles estão em maus lençóis.

O PCdoB sempre foi aliado do PT e recentemente, no episódio da prisão do ex-presidente Lula, a senhora e Guilherme Boulos (PSOL) foram apontados como herdeiros. Como avalia este rótulo?

Qualquer candidato gostaria que essa leitura fosse verdadeira porque ele é a pessoa com a maior intenção de votos. Mas Lula é candidato e não há herdeiro dele por conta disso. Somos todos militantes de esquerda e aquele episódio foi um gesto de reconhecimento às nossas construções políticas e à lealdade às convicções. Mesmo tendo nossas candidaturas não deixamos de trabalhar a prisão do presidente Lula como política.

Em campanhas recentes havia certa despolitização, com candidatos evitando tomar posição em temas delicados. Com o agravamento da crise, exigese que os candidatos marquem posições. A senhora acredita que isso lhe favorece?

Acho que sim. Estou bastante satisfeita com os índices que tenho nas pesquisas antes da eleição. Há candidatos de São Paulo e do Rio que em seus estados pontuam menos que a gente. Aqui no sul chegamos a sete pontos. Quem conhece a candidatura, vota. Os mais jovens conhecem mais por causa da Internet, que é o nosso único espaço agora. A politização só nos favorece. A despolitização não nos levou a uma saída para a crise.

A região sul recebeu há algum tempo investimentos que hoje praticamente pararam, como a BR-116 e o Polo Naval. Que saídas a senhora enxerga para este cenário?

A política de Temer para o Polo Naval e a Metade Sul é absolutamente desastrosa. Representa a cara deste governo descomprometido com a indústria nacional, com a valorização do conteúdo local. O Estado não tem aumento de investimento porque o projeto do governo não prevê a retomada da capacidade da União. Os bons momentos do Rio Grande do Sul sempre foram os bons momentos do Brasil. Acredito que a solução para estes investimentos de BR-116, de infraestrutura e de indústria façam parte de um projeto de país.