Aparecidos Políticos: Ação defende disciplina sobre o Golpe de 2016
Baseado no premiado projeto artístico “Intervenção Contra Intervenção”, em exposição no 69º Salão de Abril, em Fortaleza, o Coletivo Aparecidos Políticos propõe uma contra-ofensiva ao cerceamento da liberdade de pensamento que interfere na autonomia das Universidades.
Publicado 17/05/2018 11:19
Os membros do grupo ativista, que tem por objetivo reconstruir a memória política de Fortaleza, consideram que o Golpe de 2016, que derrubou Dilma Rousseff, presidenta eleita democraticamente pelo voto popular, tenta manter o nome “impeachment” para criar um certo ar de “normalidade democrática”. “Na verdade, não houve um impeachment porque não existiu crime de responsabilidade e nós não vivemos em uma normalidade democrática. O Golpe de 2016 e suas consequências têm demonstrado cada vez mais o seu fracasso na corrupção que continua e nas restrições ao direito social que nem o mais conservador dos candidatos teria coragem de levar ao crivo popular das urnas”.
Diante disso, várias Universidades, dentre elas a Universidade Federal do Ceará (UFC), com autonomia prevista em Constituição, criaram disciplinas sobre o Golpe de 2016, no intuito de debater sua conjuntura e desconstruir o discurso hegemônico. No Ceará, não tardou o enfrentamento. Logo o Ministério Público Federal do Ceará entrou com ação para suspender a disciplina.
A disciplina
A UFC foi a segunda Universidade divulgar que ofereceria as aulas, antecedida apenas pela Universidade de Brasília (UnB). A disciplina está na grade curricular do curso de História e tem abordagem didática sobre o impeachment da ex-presidenta Dilma. Denominada “Tópicos Especiais em História 4”, tem como tema central o “Golpe de 2016 e o Futuro da Democracia”. As aulas começaram no início de março deste ano, com conteúdo apresentado de forma colaborativa, por todos os professores do curso.
Informações dão conta de cerca de 40 universidades que ministram aulas com conteúdo semelhante, incluindo UFC, UNB, Unicamp, USP, PUC-SP, UFBA, UFAM, dentre outras.
Sobre a ação
Diante de todos esses elementos, a nova ação do Coletivo Aparecidos Políticos consiste em ajudar, de forma financeira, para intervir nos ataques conservadores. “A ideia é criar uma espécie de retroalimentação em que, quanto mais se ataque ou censure uma iniciativa progressista, mais financiamento e mais apoio simbólico ela ganhará”, garantem os ativistas.
“Enquanto a ação do MPF que tenta suspender a Disciplina ‘Golpe de 2016’ estiver tramitando, doaremos R$ 5, por dia de tramitação, para aquisição de textos e livros para a disciplina. Esta intervenção estará em curso até o final da 69ª edição do Salão de Abril, prevista para o dia 26 de junho”.
Mapear e doar para vítimas do fascismo
A advogada Stella Maris, ativista do Coleitvo, reforça que o projeto tem inspiração prática do ativismo alemão, quando um grupo criou sua performance condenando as marchas pró-nazismo que ainda existem naquele país. “Contra essas manifestações foi criada uma ‘vaquinha virtual’ onde poderia ser doado um valor em euros que seriam repassados para grupos de apoio a vítimas do Nazismo”.
Nesta mesma perspectiva, a ativista informa que o Coletivo Aparecidos Políticos tem mapeado, principalmente em Fortaleza, locais, grupos e ações que divulgam qualquer tipo de ódio (racismo, LGBTFobia, fascismo). “Já temos informações até de grupos que apoiam o pré-candidato Jair Bolsonaro e usam o discurso de ódio como ferramenta”, critica. Dentre essas ações mapeadas, está a ação do MPF com o pedido de suspensão da disciplina sobre o Golpe.
“A expectativa é de, até o mês de junho, quando o Salão de Abril estará aberto ao público, continuaremos este mapeamento e doaremos a metade do valor do prêmio recebido na mostra para grupos e artistas que sofrem esta censura e são alvos do Fascismo, que voltou a se expandir no Brasil, sobretudo a partir do Golpe. Nosso objetivo é, a partir da doação de parte de um prêmio, produto de edital público, fortalecer esses grupos vítimas de ações fascistas”, acrescenta Stella Maris.
Sobre o Coletivo Aparecidos Políticos
As mobilizações realizadas pelo grupo não são de agora. O Coletivo Aparecidos Políticos tem histórico de atuação em denunciar abusos contra a liberdade. Criado em outubro de 2009, com a chegada dos restos mortais do cearense Bergson Gurjão Farias, após 37 anos do desaparecimento dele pela Ditadura Militar o coletivo vem realizando, ao longo desses anos, várias atividades, sempre com o intuito de promover a luta por memória, verdade e justiça.
O coletivo abre espaço ainda para a interação. Caso você saiba de alguma censura, pode comunicar ao grupo ativista através do e-mail ([email protected]) ou pelas redes sociais, no perfil do Facebook (facebook.com/aparecidos.politicos/)
Além do Ceará, o Coletivo Aparecidos Políticos também já fez intervenções em Teresina (PI), Marabá (PA), Tefé (AM), João Pessoa (PB) e Brasília (DF).