Jovens negros continuam sendo as maiores vítimas da polícia de SP

Apesar de não ser novidade que jovens negros são as maiores vítimas da Polícia no estado de São Paulo, os dados do Fórum Brasileiro de Segurança, divulgados nesta quinta (17), reafirmam essa realidade. De acordo com a pesquisa – que engloba dados de 2014 a 2016 – 16% dos mortos por policiais tinham menos de 17 anos, o dobro da proporção dos de homicídio geral (8%). E, além disso, 67% das vítimas fatais de ações policiais eram pretos ou pardos.

Por Verônica Lugarini

jovens negros

Enquanto o total de óbitos de policiais segue diminuindo, o número de pessoas mortas por PMs continua aumentando. O número de policiais mortos foi de 80 em 2016 para 60 em 2017. Já o número de pessoas mortas por policiais segue alto foi de 856 em 2016 para 943 em 2017.
Entre os brasileiros mortos por policiais, os principais atingidos por essas ações são os jovens negros da periferia: 16% dos mortos por policiais tinham menos de 17 anos, o dobro da proporção dos de homicídio geral (8%), e 67% das vítimas fatais de ações policiais eram pretos ou pardos, num período de 4 anos.

O estudo mostrou também que 6,1 adolescentes foram mortos por agentes a cada mil jovens apreendidos em flagrante de 2013 a 2016, enquanto, entre adultos, o índice foi de 3,4 mortos para cada mil presos.

“Esses dados ilustram o que o movimento negro vem denunciando há quase 40 anos: o genocídio da juventude negra”, enfatizou a presidenta nacional da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Ângela Guimarães.

Ângela também destacou que existe uma naturalização da violência. “Há um desrespeito a vida da população negra pelas forças de segurança e isso se materializa no âmbito institucional, pois há uma visão pré-concebida de que em alguns territórios – pobres, periféricos e de maioria negra – onde se pode matar e abordar as pessoas de forma violenta podendo, inclusive, executar sumariamente sem provas e direito a um julgamento porque a sociedade não vai se levantar porque as vidas negras importam menos do que as vidas brancas”, disse.

Questionada pelo jornal Folha de S.Paulo – que divulgou a pesquisa nesta quinta – a Polícia Militar de São Paulo disse em nota que “jovens adultos e adolescentes que ingressam no crime possuem uma intempestividade não vista em criminosos mais velhos”.

Segundo a socióloga Samira Bueno, autora do estudo e diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança, “isso mostra que interação da polícia com o adolescente é mais violenta. Existe a ideia de que essa letalidade pode funcionar como uma política preventiva. De que, se você poupar o lobo hoje, vai condenar a ovelha amanhã”, afirmou em entrevista ao jornal.

Para a socióloga, há um aspecto perverso nessa estatística. “O que está em jogo não é matar bandido, ainda que boa parte da população defenda isso, e sim um mandato que tem sido dado aos policiais para que matem quem eles pensam que é bandido, mesmo que o indivíduo não esteja cometendo ato ilícito nem represente ameaça”.

Ângela ainda destacou em entrevista ao Portal Vermelho que a educação e as instituições têm papel central na mudança dessas estatísticas.

“Nós temos acesso a vídeos de policiais falando que a abordagem que eles fazem em bairros nobres e em bairros populares é diferente e essa ideia de como deve ser a abordagem está no curso de formação das academias das polícias civis e militares, está na teoria do racismo cientifico que associa as características negras a uma tendência inata ao crime e que acabou se consolidando como aquele suspeito padrão. Hoje o que é um suspeito padrão? É uma pessoa negra correndo. Então, infelizmente esses dados não são novidade e há muito tempo denunciamos e reivindicamos outra política de segurança pública e uma nova forma de educar. Isso tem a ver também com a imprensa quando em seus programas policiais estereotipam e taxam os territórios pobres e periféricos como locais naturais de crime organizado e de marginalidade. Essas instituições têm uma política de implementação do racismo institucional porque legitimam esse genocídio”, finalizou a presidenta nacional da Unegro.