Colômbia: Gustavo Petro venceu nas áreas esquecidas pelo Estado

Neste domingo (27) os colombianos foram às urnas para eleger o novo presidente e escolheram polarizar a disputa para o segundo turno entre os candidatos que representam os dois rostos mais opostos do país. Enquanto o candidato da extrema-direita Iván Duque venceu nas regiões mais ricas, o representante de esquerda, Gustavo Petro, teve maioria de votos nas regiões mais remotas e pobres.

Gustavo Petro - Reuters

A Colômbia é marcada por 50 anos de guerra e domínio do crime organizado. Diversas regiões abandonadas pelo Estado foram controladas pela guerrilha ou pelo paramilitarismo. Nestas áreas onde vivem os camponeses mais pobres é que Petro venceu. Representante da coligação de esquerda Colômbia Humana, ele obteve 25% dos votos.

Iván Duque foi o escolhido por Álvaro Uribe, que representa a direita mais reacionária da Colômbia, para ser o sucessor do “uribismo”. Com um projeto de governo neoliberal e a ameaça de “estraçalhar o acordo de paz” entre as Farc e o governo, o candidato obteve votos nas áreas urbanas.


O mapa mostra em roxo as regiões onde Gustavo Petro venceu, em azul é a área dominada por Iván Duque, e Sergio Fajardo aparece apenas em Bogotá, marcada de amarelo 


Segundo o índice de pobreza humana divulgado em 2015 pela ONU, os estados mais pobres da Colômbia são Chocó, Cauca, La Guajira, Magdalena e Córdoba. Petro venceu em quatro destes.

De acordo com o mesmo estudo, os cinco estados mais ricos são Bogotá, Cundinamarca, Santader, Valle del Cauca e Meta. Duque venceu também em quatro destes. O candidato que ficou em terceiro lugar, Sergio Fajardo, venceu apenas na capital.

Por que Petro venceu nas zonas mais pobres?

Quando foi prefeito de Bogotá e senador, Petro começou a propor políticas públicas voltadas para a inclusão social que hoje compõe seu plano de governo.

Sua campanha foi baseada em propostas em defesa dos mais pobres, em especial, do campesinato que ao longo de 50 anos de guerra entre a guerrilha e o governo foi submetido ao controle do paramilitarismo. Uma das propostas de Petro é a reforma agrária integral, e este foi um dos pontos mais espinhosos para entrar no acordo de paz.

Petro defende ainda a reindustrialização do país, de forma a impulsionar a economia para os pequenos e médios empresários e fomentar a agricultura familiar.

Educação e saúde gratuitas também estão na pauta do candidato que acredita na arte e na cultura como ferramentas fundamentais para “democratizar o saber”.

O desafio de Petro agora, na campanha para o segundo turno, é cativar uma parte da classe média que também se sentiu contemplada pelos impactos do acordo de paz que foi assinado entre as Farc e o governo em 2016.