Publicado 30/05/2018 16:38
Tenho lembrado de episódios da época que, hoje me deixam "bem pensativo", mas que parecia tão normal quando aconteceu…
Vejam, comecei a trabalhar (não oficialmente, claro) no Tribunal de Justiça do Acre quando tinha sete anos, em mil novecentos e noventa e três. Juro! (risos). Vendia limão e charutos. É verdade que não sabia direito o que estava fazendo, mas gostava da forma como as pessoas daquele prédio bonito e misterioso me tratavam. Gostava tanto que vivia lá. Todo santo dia eu ia. Voltava para casa, por vezes, com dinheiro e pasmem, com quase todos os limões e charutos também, porque o pessoal comprava tudo e dizia pra eu ir pra casa. Isso eu me lembro demais! Não entendia, claro. Mas achava o máximo! Porque eu gostava muito dos charutos e comia um monte quando chegava em casa.
Essa história de vendedor se esticou até mil novecentos e noventa e cinco quando mudei de profissão e passei a engraxar sapatos lá no TJ e no Fórum (Barão Rio Branco. Gostava de ler em voz alta isso por causa da tremedeira na boca que a palavra "Barão" causa).
Nesse ano também conheci o desembargador Jersey. Era um homem branco, muito alto e até do perfume dele tenho a impressão de lembrar. Ele assumiu a presidência do TJ, e como eu vivia por lá, não tinha como não conhecê-lo, né?
Durante os meus anos de "menino de rua" tive a sorte de encontrar muitos "pretensos pais", cada um melhor que o outro, diga-se. Mas nesse período (1995-1999) em especial, aquele homem grande foi melhor que um pai (já que na verdade eu não sei direito o que isso significa) foi um amigo de verdade.
Toda vez que me via, a primeira coisa que perguntava era "tá estudando, Capitão Teddy"?" Ah sim, tem isso, ele me chamava de "Capitão Teddy" (risos). E desse apelido aliás, surgiu (dele) a grande ideia de me botar na "Guarda-Mirim". Onde fiquei por três anos até a extinção do projeto em mil novecentos e noventa e nove (ano em que conheci outro grande amigo, o Raimundo Angelim que trabalhava, salvo engano na Diretoria Administrativa do TJ na época e que merece um episódio especial dessas lembranças que ainda vou contar…).
Voltando, em mil novecentos e noventa e seis com nove (quase dez) anos de idade consegui o meu "primeiro contrato" no Poder Judiciário do Acre, como Guarda-Mirim. O que me consolidou como capitão (risos). Sério. Vamos lá:
Nessa época a pergunta mais comum que me faziam era "tá estudando, Teddy?".
Claro, eu sempre dizia que sim, e sim, na verdade. Me virava bem (na medida do possível). Trabalhava de manhã e ia para o colégio à tarde. E às vezes trabalhava em dois empregos. Em dias de mais necessidade, variava entre engraxar sapatos e ser Guarda-mirim.
Como GM/PM ganhava meio salário. Abri a minha primeira conta no banco (não tenho certeza, mas acho que ainda era Banacre. Tinha um PABX no Fórum), comprei o meu primeiro cinto (de soldado), meu primeiro óculos de sol (tinha vergonha de usar, mas queria muito ter um) e iniciei, oficialmente, a minha vida de adulto. Hoje percebo o quanto aquilo não era coisa de criança. Mas sinceramente, não sei que adulto eu seria sem aquela velha infância.
Não sou nada, além de mim mesmo, mas essas histórias bestas resgatadas na insônia de um menino velho me fazem suspirar na certeza de que o meu ouro é a minha pequena história que ainda está em construção…