Lado B da Lu: Meu primeiro dia da Copa 

Urubu eletrocutado, chopp do bom e Cristiano Ronaldo… Poderia usar diversos títulos para o primeiro texto do Lado B da Lu na Copa, mas como o Lado B tem a pretensão de ser o “the real B side of the world cup”, parto do princípio todo, bem como havia a escuridão antes da luz.

Por Lu Castro*

uruguai - Divulgação
Não pude acompanhar o jogo de abertura da Copa por estar a caminho do meu novo lar. Apenas fiquei sabendo que Putin ficou felizinho da silva com os 5 tentos aplicados contra nenhum sofrido no jogo contra os abonados árabes. Nem tudo é dinheiro nessa vida, certo?
Mas acordei cedo na sexta para acompanhar Egito e Uruguai. 
 
A dúvida matutina: Salah ou A Celeste que tantos caras colocou no meu Tricolor do coração?
Que me perdoem todos os faraós de todas as dinastias possíveis, mas desde Pedro Rocha, El Verdugo, a Celeste me incendeia.
 
Ainda que o Egito estivesse desfalcado de seu maior nome, foi uma peleja complicada para que o Uruguai garantisse a vitória nesta primeira rodada do Grupo A. 1 a 0, gol de Giménez no minuto final. Era pra ser! Era pra ser!
 
Enquanto espero o jogo do meio dia, vou cuidando da minha casinha de Hobbit e pensando nas várias coisas que ainda preciso para deixá-la mais confortável. O meio dia se aproxima. Marrocos e Irã, ainda que não prometa um jogão de bola, é um jogo de Copa do Mundo, e toda a reverência é pouca neste momento. 
 
Do nada um estouro: POW! Seco e alto. A iluminação da casa oscila e a luz que me guiava no primeiro dia de Copa plena, dá lugar à escuridão. Escuto vozes na rua e vou olhar pela janela, que não me oferece grande perspectiva, mas ao procurar saber o que provocou tamanho estouro – e logo me veio à memória evento semelhante em Santo Amaro minha terra – soube que um urubu, ave em grande número por aqui, foi o responsável pelo estouro no transformador da rua. E foi morto. Caiu duro no meio da rua, motivo de muitas especulações dos transeuntes.

Sem luz, sem tevê, sem jogo. Desespero.

O jogo! O jogo! Preciso ver! É Copa do Mundo pelarmodasdeusas!
 
Retomando a sobriedade, resolvi matar a saudade da bike e ir até o centro da cidade comprar os ganchos para a rede recém adquirida. Na volta passei pela Rua Guaicurus (Google Maps auxilia legal os curiosos)  e avistei três telas grandes, uma mesa de bilhar e uma chopeira. Pedalo por mais um quarteirão e pego o caminho de volta.
 
Encosto no bar “Oi, posso ver o jogo?” – “Claro!” – “E esse chopp?” – “É bom, hein?” – “Então tira um pra mim, por favor? Posso deixar a bike aqui?” – “Claro!”.
Marrocos e Irã já haviam melado meu bolão, bem como já tinha vacilado e não palpitado sobre Egito e Uruguai. 
 
Aguardemos então a peleja dos colonizadores enquanto o narrador da Globo – o único disponível no momento – explica aos telespectadores que Cristovão Colombo e Pedro Álvares Cabral descobriram nossas terras…
 
E viro meus olhos de preguiça. Abstrai, Luciane, é Copa do Mundo! Venha um chopp…gol de Portugal.
Do gajo Cristiano Ronaldo. Aquele por quem um dia nutri uma profunda antipatia, mas como sou avessa a permanências e certezas absolutas até o fim da vida, passei a admirar mais pelo que faz fora de campo do que dentro dele.
 
Chopp bom demais, desce mais um, por favor? Gol da Espanha. Um golaço do desertor Diego Costa, que eu achei que teve falta, cá entre nós, daquela seleção que tem o Sergio Ramos e aquela pataquada sem noção em cima do Salah no final da Champions. Peguei bode e ponto.
“Mas que chopp bom é esse meu amigo?”
“É o Malta, lá de Taubaté.”
“Desce mais um pá nóis.”
E tome gol do portuga com um peru do goleirão espanhol. Que beleza! Desce mais um chopp, amigão! O bilhar rola com três ou quatro caras, e, ainda que as bolinhas coloridas no pano verde me chamem a atenção, É COPA DO MUNDO! Olha pro telão, Luciane!
Ai vem o desertor empatar a peleja de novo, pra minha raiva.
Os espanhois viram o jogo com Nacho – não o Libre – e começo a pensar mais seriamente no bolão: tem que empatar! tem que empatar! se não pelo placar, pelo menos pelo resultado.
“Aí, aos 43 Portugal vai empatar”
“Cristiano Ronaldo de pênalti”, diz Alex, o rapaz que está me servindo o chopp.
Quarenta e um minutos. Falta quase na entrada da área espanhola. 
Vai o português para a cobrança.
Pasmem, ele NÃO olha para o telão. Tá concentrado o moço.
E bate. A bola parece que pega alguma alça de acesso à Marginal Tietê e entra no cantinho. De Gea só olha. É o empate, é o bolão salvo. É o primeiro jogão da Copa do Mundo. É Cristiano Ronaldo que chega chegando.
É Copa do Mundo! Aquela que me deixará viúva logo menos, cheia de saudade e que daqui uns anos será alvo das mais variadas pesquisas.
É Copa do Mundo e é com a alegria que ela me traz que vou falar sobre os jogos que assistir ou não assistir.
A Copa começou e seguiremos aqui no Vermelho sem a menor pretensão de ser didática ou cirúrgica, afinal, aqui é lado B e B de Boteco é o que mais orna com futebol. A quem interessar, o Bar é o Pub.Com – @pubpontocom no instagram – e a cada gol do Brasil, uma rodada de chopp na faixa pra quem estiver por lá.