O retorno do confronto em países europeus sobre questão migratória
Imigrantes do barco Aquarius foram acolhidos em Valência no domingo (17). O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, se encontra nesta segunda-feira (18) com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, para tratar sobre a relação diplomática entre os países e os novos caminhos da política migratória do continente. É um encontro de opostos.
Publicado 18/06/2018 15:42
As pessoas a bordo do Aquarius finalmente pisaram em terra firme em Valência, convidados pelo novo Governo socialista da Espanha. Os imigrantes foram rejeitados pela Itália, agora com um governo de extrema direita, que ganhou voz após um longo período de recusa e desorganização por parte de outros países europeus em ajudar a Itália a acolher aqueles que chegavam em seus portos.
Agora, Itália e Alamanha devem se encontrar para discutir a questão dos imigrantes. Giuseppe Conte acabou de assumir, indicado pelo populista M5E e pela Liga, de extrema-direita, cujo líder Matteo Salvini é ministro do Interior do país. Uma das primeiras decisões do novo governo italiano foi rejeitar o desembarque do navio Aquarius, com 629 imigrantes refugiados a bordo. A decisão foi duramente criticada pela comunidade internacional e de direitos humanos, que afirmou que os tripulantes corriam risco de vida se permanecessem em alto mar. Espanha e França se comprometeram a receber os refugiados. A recusa não foi surpresa: Salvini já tinha feito uma declaração em que disse "acabou o recreio, façam suas malas e partam" aos imigrantes.
Recentemente, o xenófobo Salvini disse que pretende registrar de forma discriminatória os ciganos italianos. “Os estrangeiros em situação irregular serão expulsos”, disse, e completou: “quanto aos ciganos italianos, talvez tenhamos de ficar eles”.
A Itália precisa lidar também com a insatisfação de sua população quanto a União Europeia. Uma pesquisa do instituto Eurobarometro mostrou que somente 44% dos italianos acreditam que fazer parte do bloco seja positivo para o país, e apenas 36% acha que a Itália ainda tem alguma relevância nas reuniões do bloco.
Embora a política migratória do novo governo italiano seja também rejeitada por outros países europeus, a Alemanha pode estar mudando suas ideias migratórias para o mesmo sentido. Não há dúvidas que as migrações são uma questão importante para os dois países: em 2016, 181.436 imigrantes entraram na Itália, e 482.000 foram para a Alemanha.
Na semana passada, a chanceler alemã se reuniu com o grupo conservador da Baviera para debater o assunto, e mostrou que seu governo pode romper mais uma vez caso uma medida nacionalista não seja tomada. Que a entrada de imigrantes na Alemanha deve ser rediscutida e remodelada é uma questão unânime para o governo, que propõe que os novos e futuros imigrantes sejam distribuídos de maneira “mais equitativa” entre os países europeus. O ponto de cisão entre o governo de Merkel e os conservadores está no momento desta decisão: para Merkel, a questão deve ser discutida e votada com outros países da União Europeia; para os ultraconservadores, deve ser tomada imediatamente.
O confronto veio depois que Merkel rejeitou os planos do seu ministro do Interior, Horst Seehofer, que quer reencaminhar de forma unilateral os imigrantes e requerentes de asilo que tenham se registrado em outros países da União Europeia. Uma medida deste gênero seria um grande abalo para a política de portas abertas anunciada por Merkel em 2015, para além de pôr em causa o sistema das fronteiras abertas no espaço Schengen.
A CSU, o partido irmão da CDU liderado por Seehofer, enfrenta eleições na Baviera em outubro e o receio de dar trunfos à extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) tem levado o ministro a adotar uma posição mais dura face à imigração. A crise pode levar Merkel a demitir Seehofer e até a contemplar a possibilidade de pôr fim à aliança conservadora de 70 anos entre as duas formações. Sem o apoio da CSU, a União Democrata Cristã (CDU) de Merkel e os sociais-democratas do SPD – que também apoiam o governo de grande coligação – iriam deixar de ter uma maioria parlamentar.
Trump, o xenófobo da América
O Presidente norte-americano Donald Trump lançou nessa segunda-feira (18), através do Twitter, um ataque à política migratória alemã, relacionando a entrada de imigrantes no país com uma suposta subida da criminalidade que os números, na verdade, desmentem.
“O povo alemão está colocando-se contra sua liderança em um momento em que a migração está abalando uma coligação já frágil em Berlim. O crime disparou na Alemanha. Um erro grave repetido em toda a Europa ao permitir a entrada a milhões de pessoas que mudaram a sua cultura de forma tão forte e tão violenta!”, escreveu na rede social.
Segundo dados do Ministério do Interior alemão divulgados em maio, o número de crimes registado no país é atualmente o mais baixo desde 1992. Os números relativos a 2017 mostram ainda uma descida de 5% face ao ano anterior.
“Não queremos que o que está acontecendo na Europa aconteça conosco!”, escreveu Trump em seguida.
A pressão sobre Merkel surge do outro lado do Atlântico, vinda dos EUA. O ataque de Trump decorreu numa série de mensagens sobre política migratória em que o presidente republicano voltou a responsabilizar a oposição democrata pela crise na fronteira com o México, onde milhares de crianças estão sendo retiradas de famílias que tentam entrar nos EUA.