Itália contra imigrantes, e em seguida contra ciganos

O ministro do Interior italiano e líder da Liga (extrema-direita), Matteo Salvini, disse que pretende fazer um registro considerado discriminatório para ciganos, dias depois de dizer aos imigrantes para que "façam suas malas e partam"

Matteo Salvini

“Os estrangeiros em situação irregular serão expulsos”, disse. “Quanto aos ciganos italianos, talvez tenhamos de ficar eles”, afirmou o líder da Liga, um partido xenófobo de extrema-direita que formou governo em coligação com o Movimento 5 Estrelas, uma formação anti-sistema.

Se as atenções iniciais de Salvini foram para os imigrantes, que ameaçou expulsar e deter, os ciganos surgem agora na sua lista de prioridades. Assume que está retomando o trabalho do anterior líder da Liga, Roberto Maroni, que foi também ministro do Interior, com Silvio Berlusconi, em 1994/1995 e em 2008/2011. “Desde Maroni não se fez mais nada sobre os ciganos, e a situação está um caos”, disse Salvini. “Temos de ver quem são, quantos são os ciganos. Fazer um registo civil”.

Um senador do Partido Democrata, Franco Mirabelli, diz que a ideia de Salvini “evoca a limpeza étnica”. O presidente da Associação 21 de Julho, Carlo Stasolla, que defende os direitos da comunidade cigana, respondeu a Salvini recordando-lhe que aquilo que pretende nem sequer é legal. “O ministro do Interior parece não saber que um registro com base étnica não é permitido pela lei italiana”, frisou Stasolla, citado pelo jornal La Repubblica.

“Recordamos ainda que existem dados e estatísticas sobre quem vive nos acampamentos formais e informais e que os poucos ciganos em situação irregular não têm Estado e por isso não podem ser expulsos”, sublinhou Stasolla.

Tanta hiperatividade do ministro do Interior Matteo Salvini, que assumiu todo o protagonismo do novo Governo, mereceu um comentário malicioso do ex-primeiro-ministro do Partido Democrata Paolo Gentiloni no Twitter: “Ontem os refugiados, hoje os ciganos, amanhã a legalização das armas para todos. É cansativo ser mau”.