França e Peru numa quinta abstêmia: anormal como a índole de Trump 

Acordo após uma noite mal dormida, entre sonhos com insetos bizarros e as mordidas da gata que me adotou, a cada vez que me mexia. Procuro o óculos, que virou brinquedo felino enquanto me encontro male male com Morfeu.

*Por Lu Castro

didi peru - Divulgação

Tem Dinamarca e Austrália rolando na tevê, mas sem café, não dou conta da retomada da existência material que me aguarda. Começo a caçar os objetos jogados pela casa até encontrar a extensão dos meus olhos para começar o dia. Não vi o gol da Dinamarca, tampouco o gol de empate australiano.

 
E pra ser bem honesta, este jogo não tem grande importância. Já França e Peru…
 
Entre as xícaras de café, respostas a e-mails, mensagens no whatsapp e o início do jogo, uma vontade pralém do controle de cair no Tenório. O privilégio de dar um tempo no trabalho para tomar um banho de mar é algo recém conquistado e, confesso, tenho sido bastante agradecida pela oportunidade.
 
Mata-se, em razão do trabalho, o desejo do banho de mar e reprograma-se o rolê. Vamos falar de França e Peru, com ênfase na seleção sul americana, óbvio!
 
Enquanto busco mais informações históricas sobre a peleja, me deparo com postagens sobre a política de tolerância zero do embuste no cargo de presidente dos EUA. 
 
O mentalmente perturbado presidente, separou algo em torno de duas mil crianças de suas famílias no processo de imigração. Tal determinação gerou ondas de protestos entre os norte americanos mais evoluídos e…enquanto escrevo estas linhas, uma vacilada monstra da zaga peruana deixa a França abrir o placar com uma boa jogada iniciada com Pogba, passando por Giroud e deixando Mbappé concluir. Droga!
 
Voltando rapidamente ao que me toca a bile, mas de modo resumido, o fedelho playboy alaranjado voltou atrás na decisão e decidiu deixar todo imigrante ilegal preso com a família. 
 
Gente sem coração. Gente atrasada. Gente pequena. A estes, meu mais notável cosplay de Bob Cuspe:
 
A esta altura do jogo, 43 minutos e poucos, a França tá abusada. As jogadas de ataque estão deixando a defesa peruana tonta e eu, buscando no passado, algum evento que valha contar em conjunto com esta torta crônica de jogo.
 
Com a pesquisa sobre 1958 ainda fresca na cabeça, relembro trecho do longa documentário do querido amigo José Carlos Asbeg, “1958 – O ano em que o mundo descobriu o Brasil”, onde Didi relembra a classificação para a Suécia diante do Peru, com um gol marcado por ele, de “Folha Seca”. E lembro que o Príncipe Etíope foi o cara responsável por levar o Peru para sua segunda participação em Copas do Mundo, em 1970.
 
Logo, nossa ligação futebolística com os irmãos sul americanos, tem muito mais história que Cueva e Guerrero, recentemente.
 
A classificação peruana para a Copa de 1970 é histórica. Foram 4 jogos com 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota. 62,50% de aproveitamento, dado interessante aos estatísticos. O jogo qualificatório aconteceu em La Bombonera, no dia 31 de agosto de 1969, e, além da qualificação peruana, deixou a Argentina fora do mundial. 
 
O verdugo peruano tinha nome: Oswaldo “Cachito” Ramiréz. Marcou os dois gols peruanos no empate em plena La Bombonera. Tristeza de uns, alegria de vários outros. Coisas de uma rivalidade histórica da qual um dia fui refém e hoje, liberta, dispenso sem nenhuma cerimônia, com o peito aberto a vera! Argentina, eu gosto de você! <3
 
No México, a seleção peruana conquistou sua melhor classificação em uma Copa do Mundo: 7º lugar. Caiu nas quartas-de-final diante daquele Brasil, que nem Didi, como técnico adversário, seria capaz de segurar. Aliás, à beira do campo do Estádio Jalisco naquele ano de 1970 d.C., dois campeões mundiais da seleção mais linda de todos os tempos: Zagallo e Didi. 
 
“Eu era apenas um garoto. Mal acabara de ser campeão com o Alianza. Mesmo assim, ele disse que via em mim um grande futuro. Me encorajou. E fez mais: me convocou para a seleção. Eu, apenas um garoto! Aí chamou o Sotíl, o Mifflin, o Baylon, o Perico…Uma rapaziada cheia de vontade, ansiosa por uma chance. Seu trabalho foi espetacular. Foi o maior técnico que conheci.” Teófilo Cubillas sobre Didi em trecho retirado do livro “Didi, o gênio da folha-seca”, de Péris Ribeiro.
 
Ouvi por aí que chegaria o dia em que o Brasil jogaria contra o Brasil num mundial. Pena que involuímos futebolísticamente no decorrer dos anos.
 
Enquanto sonho com o passado, França e Peru retomam o jogo na Arena Ekaterinburg. A seleção peruana voltou melhor e está finalizando mais, porém, sem marcar. Se perder para a França, pega o caminho de volta para casa, o que significa a primeira baixa sul americana na Rússia. 
 
Os franceses se seguram e os chutes peruanos, desesperados, encontram a trave, o travessão, a defesa francesa ou a arquibancada enquanto o tempo passa…
 
E o tempo passa sem o placar se movimentar: 1 a 0 para a França.
 
Na melhor oportunidade, aos 41 minutos da etapa complementar, falta cobrada por Guerrero, que pára nas mãos do goleirão Lloris. 
 
A França encaminha sua classificação para as oitavas-de-final na Rússia. O Peru se despede sob as lágrimas de Paolo Guerrero e a esta escriba, resta torcer pela Argentina contra a Croácia após um breve mergulho no Tenório.
 
Cueva volta para o meu Tricolor e eu não sei bem o que pensar sobre isso. Entre alguns mentirosos “nunca critiquei” e os mais sinceros “vaza Cueva”, vou sentindo falta do Brasileirão. É, sem cerveja, o sentimento futebolístico fica estranho, não tanto quanto o presidente norte americano. Este é superlativo no quesito bizarrice.