Vice dos EUA no Brasil: crianças estão detidas, mas foco é a Venezuela
O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, inicou nessa terça-feira (26) sua primeira visita ao Brasil, em uma viagem em que o político pretende passar também pelo Equador e pela Guatemala. No Brasil, trrês temas serão os principais com Michel Temer: a Venezuela, a influência da China e a cooperação espacial, apesar das crianças brasileiras detidas em solo norte-americano
Por Alessandra Monterastelli *
Publicado 26/06/2018 14:40
A agenda de Pence inlcui Brasilia nessa terça (26) e Manaus na quarta-feira (27). Um dos temas com todos os países visitados é a continuidade da tentativa de isolamento da Venezuela na América Latina, encabeçada pelos Estados Unidos.
Autoridades brasileiras tentarão abordar questões polêmicas como o aumento da taxação sobre a exportação do aço pelos EUA e a separação de crianças brasileiras dos pais que tentam migrar para o país de Trump.
O acordo sobre a utilização norte-americana da base de lançamentos espaciais de Alcântara será tratado dentro de um quadro mais geral de cooperação aero-espacial.
Crianças brasileiras separadas dos pais
O número de crianças brasileiras localizadas em abrigos para menores nos EUA após serem separadas de seus pais imigrantes subiu para 51. Segundo o Estado de São Paulo, o presidente Michel Temer manifestou sua preocupação no encontro com Pence em relação a esses menores, uma vez que o assunto não estava na lista dos temas principais do encontro. Segundo a Folha de São Paulo, o presidente brasileiro evitou criticar a política migratória norte-americana, citando apenas as crianças brasileiras.
Pence respondeu que buscará uma solução para o problema, não especificando como, mas apenas declarando que uma resposta para o assunto será dada o mais breve possível.
Crianças estavam sendo separadas de seus pais imigrantes na fronteira entre México e Estados Unidos devido à política de "tolerância zero" da administração Trump contra a imigração ilegal; de acordo com as normas implementadas, aqueles que tentam cruzar a fronteira dos EUA sem documentação são vistos como criminosos, presos e tinham as crianças tiradas e mandadas para abrigos. Após uma série de críticas internacionais e pressões internas, Trump assinou um decreto que impede que os menores sejam separados de seus pais, mas que faz com que todos sejam detidos juntos por tempo indeterminado, continuando com a política de "tolerância zero".
Apesar da situação caótica a revoltante em que crianças eram separadas de pais e mandadas para abrigos que muitas vezes pareciam gaiolas, o ministro das Relações Exteriores do governo Temer, Aloysio Nunes, afirmou na semana passada que não queria "politizar excessivamente" a separação de crianças imigrantes; o governo brasileiro teria recuado porque iria receber Mike Pence nessa semana.
Isso porque, como foi relatado pelo Estado, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sergio Amaral, disse que este é um momento de intensificação dos contatos de alto nível entre os governos de ambos os países. A administração republicana de Trump tem sido repudiada em todo o mundo devido ao seu viés isolacionista, ultraconservador e agressivo, enquanto que no Brasil Temer segue com baixissima popularidade, em um governo conservador instaurado por um golpe parlamentar.
Venezuela
Antes de embarcar, Mike Pence afirmou que estava viajando com o objetivo de “trabalhar com aliados para pôr pressão no regime de [Nicolás] Maduro e restaurar a democracia para o povo venezuelano”. A Venezuela é grande detentora de pretróleo em seu território, motivo por sempre ter chamado atenção dos Estados Unidos.
Pence fará uma visita ao centro de acolhimento de migrantes venezuelanos no Amazonas, a Casa da Acolhida Santa Catarina, como tentativa de “mostrar ao mundo” que a Venezuela precisa de intervenção por não conseguir conter a migração de seus cidadãos. Contudo, grande parte das imigrações devem-se à escassez na Venezuela, consequencia, em grande parte, das sanções econômicas pesadíssimas impulsionadas pelos EUA por motivação política contra o país.
Recentemente aconteceram eleições presidenciais na Venezuela, vencidas por Nicolás Maduro e marcando a sua reeleição. O governo venezuelano, que vem tentando superar a grave crise econômica vivida no país, fez um programa de distribuição de cestas basicas em regiões mais pobres na tentativa de amenizar a escassez devida as sanções norte-americanas e a alta inflação. Além disso, o governo criou o Petro, criptomoeda venezuelana, para negociar diretamente com outros países.
Preocupação com a influência chinesa
A China já vinha se aproximando e aumentando sua influência na América Latina, processo que foi acentuado com a política isolacionista de Donald Trump. Agora, os EUA estão alarmados com a presença econômica da China no território latino-americano, onde o país asiático é o principal parceiro comercial do Brasil, por exemplo.
"A China será um dos tópicos de discussão e o vice-presidente deverá ressaltar o papel dos EUA como parceiro comercial e fonte de investimentos para o Brasil", declarou Jason Marczak, diretor do programa para a América Latina do Atlantic Council, citado pelo Estado de São Paulo.
Cooperação espacial
Estados Unidos e Brasil irão também negociar uma declaração conjunta sobre a cooperação na área espacial. O entendimento prevê uma parceria nas áreas de ciência, observação e monitoramento da Terra, ciência espacial, sistemas de exploração e operações espaciais, que poderiam impulsionar a aproximação entre a NASA, agência espacial dos EUA, e a Agência Espacial Brasileira. O acordo também abrirá caminho para o uso da base a Alcântara, no Maranhão, para o lançamento de satélites.