Pós-golpe afasta estrangeiros, que já tiraram R$ 10,6 bi da bolsa

Investidores estrangeiros retiraram mais de R$ 10 bilhões da bolsa de valores brasileira do começo do ano até agora. Trata-se da maior retirada líquida em um primeiro semestre na história da bolsa. De acordo com analistas ouvidos pelo Valor Econômico, existe uma volatilidade grande que afeta os investimentos no Brasil e, além disso, a leitura do estrangeiro sobre o país piorou bastante.

Segundo o jornal, a última vez que uma fuga deste tamanho aconteceu foi na crise financeira de 2008, quando o saldo negativo anual atingiu R$ 24,6 bilhões. No primeiro semestre daquele ano, a retirada foi de R$ 6,66 bilhões.

Os números negativos têm a ver com o atual momento da economia mundial. Há temores sobre uma guerra comercial, os EUA continuam a apertar sua política monetária e houve piora nas projeções para o crescimento econômico global. Diante do conjunto de riscos, investidores ficam receosos de apostar em países emergentes. 

Mas, no Brasil, esse contexto é agravado pela falta de perspectivas positivas na economia, pelas dificuldades do atual governo e pela indefinição sobre o cenário pós-eleitoral. Basta destacar que, em três meses, a previsão do Banco Central para o crescimento do PIB caiu de 2,6% para 1,6%. 

"Mesmo em anos em que a preocupação do investidor em termos políticos era bastante elevada, a percepção de risco não chegou aos níveis precificados hoje. Em 2014, quando Dilma Rousseff foi reeleita para a Presidência, a posição dos estrangeiros estava positiva em R$ 12,2 bilhões na bolsa até o fim do primeiro semestre", compara o Valor.

Os estrangeiros respondem por metade do volume negociado na bolsa brasileira, por isso sua saída impacta o preço das ações. Apenas em junho, o Ibovespa acumula queda de 7% em reais e 8% em dólar. No ano, a queda é de 6,5% em reais e 18% em dólar.

O cenário joga mais uma pá de cal no discurso do presidente Michel Temer, que assumiu afirmando que iria recuperar a confiança na economia brasileira.