Apesar de clima tenso, coligação na Alemanha resiste
O futuro do governo alemão ainda está em aberto, mas vários responsáveis da União Social-Cristã (CSU) parecem estar dispostos a negociar com a chanceler alemã Angela Merkel para salvar a coligação com a União Democrática Cristã (CDU)
Publicado 02/07/2018 17:19
O governo alemão parece estar a salvo (por enquanto) de uma sentença de morte que deixaria o país mais influente da União Europeia (UE) mergulhado em uma grave crise política, no momento em que vários países europeus estão cada vez mais desunidos devido às políticas de imigração.
Nessa segunda-feira (2), enquanto ocorrem diversas reuniões entre os três partidos do governo liderado por Angela Merkel, vários responsáveis da formação que está no centro da divisão, a CSU, declararam que as divergências não são suficientes para derrubar a coligação.
"Estamos prontos para fazer compromissos. Para nós, não está em causa uma saída do governo", disse Markus Söder, primeiro-ministro da Baviera pela CSU – o partido de centro-direita que opera apenas nesse estado federal do Sul da Alemanha mas que está coligado com a CDU, de Angela Merkel, desde 1949.
O seu colega de partido e líder do grupo parlamentar da CSU, Alexander Dobrindt, foi um pouco mais vago, mas apontou para o mesmo desfecho, ao elogiar as sete décadas de coligação entre a CSU e a CDU e a afirmar que "um destino em comum só prova o seu valor quando é posto em causa".
A tensão entre CSU e CDU começou devido às diferenças de opinião sobre políticas de imigração entre a chanceler alemã e o seu ministro do Interior, Horst Seehofer, que é o líder da CSU.
Enquanto Merkel defende que a entrada de migrantes e refugiados na Europa deve ser coordenada entre todos os membros da UE, Seehofer tem pressionado a chanceler para que ela faça uma escolha: promover esse acordo comum em Bruxelas ou permitir que ele, como ministro do Interior, dê ordens para que os refugiados cujos processos foram feitos em outros países europeus sejam proibidos de entrar na Alemanha.
Apesar de concordar com o princípio de que um refugiado deve permanecer no país onde pediu asilo (e é isso que diz a lei internacional), a chanceler alemã rejeita a proposta do seu ministro do Interior porque antecipa consequências negativas para a UE se a Alemanha fechar as suas fronteiras de forma unilateral. Outros países seguiriam esse exemplo e a política de livre circulação seria posta em causa.
Seehofer, junto com os governos de extrema-direita da Itália e da Áustria, anunciou estar participando de um "eixo" contra a imigração.
A cúpula em Bruxelas
Na semana passada, os países da UE se reuniaram para tentar encontrar uma solução comum para a imigração, tema que voltou com força após a Itália se negar a receber um barco com cerca de 630 imigrantes vindo do norte da África.
O resultado final do encontro entre nações em Bruxelas não fez nada para aproximar as posições de Merkel e de Seehofer, além de resultar em itens não muito favoráveis para os imigrantes. A chanceler fez acordos bilaterais para a devolução de refugiados registados pela primeira vez em outros países, mas são acordos de adesão voluntária, insuficientes para quem se mantém firme contra a possibilidade de novas vagas para migrantes.
De volta à Alemanha, no fim-de-semana, tanto a CDU de Angela Merkel como a CSU de Horst Seehofer reuniram-se para discutirem os resultados da cúpula europeia. O ministro do Interior alemão decidiu apresentar a sua demissão por considerar que estes acordos europeus não respondem às suas exigências.
Mas outros responsáveis no seu partido têm uma opinião diferente. Para eles, os resultados da reunião europeia são suficientes para fazerem Seehofer recuar, e no final este foi convencido a permanecer no cargo.
Coligação em jogo
Além de reuniões entre a CDU e a CSU, também o SPD se reuniu para debater as desavenças entre Merkel e Seehofer. O partido do centro-esquerda, que também faz parte da coligação de governo, considera que "o ego da CSU embarcou em uma viagem perigosa". O SPD defende que o ministro do Interior deve retirar a sua exigência para que a Alemanha impeça a entrada de refugiados de forma unilateral.