Por que Sergio Moro tem medo das urnas?

O juiz Sergio Moro manifestou por esses dias o receio de que as eleições previstas para outubro possam afetar o destino da sua Lava Jato. Mas, a bem da verdade, é preciso dizer que o que está colocando em risco o Brasil enquanto nação é o governo proveniente do golpe de Estado de 2016, para o qual por sinal a operação comandada pelo magistrado de primeira instância de Curitiba tanto contribuiu.

Por Adilson Araújo*

Sergio Moro - Foto: Lula Marques / AGPT/Fotos Públicas

Desde que os golpistas liderados por Michel Temer tomaram de assalto o Palácio do Planalto está em curso em nosso país uma agenda política profundamente reacionária e contrária aos interesses do povo e da nação. Riquezas e empresas brasileiras estão sendo entregues ao capital estrangeiro, os direitos sociais são destruídos. Criou-se um ambiente em que só prospera a miséria, a concentração da renda e a desigualdade social.

A crise econômica foi agravada tanto pelo golpe quanto pela Lava Jato, que dele fez parte. Dados do IBGE indicam que 27 milhões de trabalhadores amargam o desemprego ou a subocupação. Esses são os fatos objetivos da triste realidade que emergiu da imposição do projeto de restauração neoliberal, de caráter claramente neocolonial e subordinado e inspirado no Consenso de Washington, ou seja, ao imperialismo estadunidense. Não é sem razão que Michel Temer tornou-se o presidente mais impopular do mundo.

É verdade, porém, que se o golpe rejeitado pela maioria da sociedade contraria visivelmente a vontade da classe trabalhadora e das forças democráticas e patriotas, por outro lado ele satisfaz plenamente os interesses daqueles que o apoiaram e patrocinaram, caso dos EUA, dos grandes capitalistas, dos latifundiários. Em outras palavras, as chamadas classes dominantes, que certamente estão lucrando muito com o governo ilegítimo.

Conforme já sugeriu o famoso físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, a obra de Sergio Moro e da República de Curitiba está objetivamente a serviço dessas classes. Os fatos históricos mostram que o combate à corrupção é um pretexto arguido com o propósito de mascarar objetivos reacionários. No passado, Getúlio Vargas e João Goulart foram suas vítimas mais célebres. Hoje, é Lula – preso injustamente – e, antes Dilma, que foi afastada no rastro de uma furiosa e falsa campanha moralista, pois em nome do combate à corrupção entronizaram a cleptocracia presidida por Temer.

O que o Brasil precisa, e o quanto antes melhor, é interromper e reverter as políticas impostas pelos golpistas, de modo a resgatar um projeto assentado na retomada do crescimento econômico e na geração de emprego e renda. Um projeto de país democrático, justo e soberano. Sabemos que a situação é gravíssima. Cresce a mortalidade infantil, doenças já erradicadas ressurgem, e o governo mais impopular da história do país quer tirar das mãos dos mais carentes e necessitados o seu maior programa de distribuição de renda e sinaliza a entrega do SUS aos interesses privados.

Como já disse um estadista norte-americano não se pode enganar a todos por todo o tempo. O povo não pensa como Moro e as pesquisas indicam que a maioria o reprova e não mais se deixa enganar por sua conversa fiada. Em contrapartida, a popularidade de Lula avança e da cadeia ele continua crescendo nas pesquisas de intenção de voto.

Ao contrário de Moro, o povo não vê risco nas urnas, mas ainda enxerga nelas uma luz no fim do escuro túnel em que o golpe enfiou o Brasil. Quer Lula porque sabe que Lula significa a reversão do golpe e a esperança de retomada de um projeto nacional de desenvolvimento fundado na soberania, na democracia e na valorização do trabalho. É disto que Moro e as classes dominantes têm medo.