Ônibus escolar foi atacado com bombas dos EUA no Iêmen
Fragmentos de bombas MK-82, de origem norte-americana, são visíveis nas imagens que um jornalista divulgou do local onde um ônibus cheio de crianças foi atacado pelos sauditas, no Iêmen
Publicado 14/08/2018 14:18

Caças da coligação liderada pelos sauditas atingiram, na última quinta-feira (9), um ônibus escolar na zona de Dahyan, na província iemenita de Sa'ada, provocando mais de 50 vítimas mortais – 40 das quais crianças, de acordo com as autoridades Hutis – e cerca de 80 feridos.
Segundo a informação divulgada no sábado (11) por Nasser Arrabyee, um jornalista local, a coligação comandada pelos sauditas teria usado munições de fabricação norte-americana.
"Restos das bombas dos EUA que mataram as crianças iemenitas no mais recente massacre e crime de guerra saudita-norte-americano, de 9 de Agosto de 2018, em Sa'ada, Norte do Iêmen", escreveu Nasser Arrabyee no Twitter, onde também postou as fotos dos fragmentos das bombas MK-82 retiradas do local do bombardeamento contra o veículo.
Na peça em que chama a atenção para o tweet e a informação nele contida, esta segunda-feira (13), a RT sublinha que as imagens ainda carecem de verificação independente, mas lembra que não é a primeira vez que fragmentos de bombas Raytheon Mark 82 são encontrados em locais onde a coligação liderada pelos sauditas levou a cabo massacres contra a população civil no Iêmen desde o início da campanha militar, em março 2015.
A MK-82, bomba de 227 quilos e fabricada pela empresa norte-americana General Dynamics, foi também usada quando os caças sauditas atacaram, em outubro de 2016, um funeral na capital do país, Saná. Então, 140 pessoas foram mortas e mais de 500 ficaram feridas.
Pentágono diz que é impossível seguir o rastro da bomba
O fluxo armementístico de Washington para Riade é enorme, mas a Arábia Saudita não é destino único da MK-82, como deixou claro, na semana passada, um porta-voz do Pentágono. De acordo com o major Josh Jacques, é impossível saber de onde veio a bomba que foi usada no ataque contra o ônibus escolar no dia 9 de agosto.
Isto porque, segundo refere a RT, em 2016 os EUA aprovaram a venda dessa bomba à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos, à França e ao Iraque, e prolongaram os contratos de venda já existentes com a Austrália e o Bahrain. Portanto, na lógica do Pentágono, pode nunca ficar claro se a munição usada em Sa'ada "foi uma das que nós vendemos" (aos sauditas).
Negócio de milhões
A Arábia Saudita é um dos principais destinos do armamento fabricado nos países ocidentais e, de modo sintomático, foi o primeiro país que Donald Trump visitou depois de tomar posse, em janeiro de 2017.
Nessa visita, foi anunciado que Washington poderia vender a Riade um equipamento militar no valor de 110 mil milhões de dólares num período de dez anos. Então, o Departamento de Estado afirmou que o acordo poderia chegar aos 350 mil milhões de dólares.
De acordo com um estudo divulgado em março, os EUA venderam, no ano passado, armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos no valor de 650 milhões de dólares.
Em abril, a administração norte-americana deu luz verde ao negócio, no valor de 1,3 mil milhões de dólares, de venda de artilharia aos sauditas, apesar dos relatórios que evidenciam que esse armamento contribui para o massacre de civis e das críticas crescentes de organismo internacionais.
Um estudo do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), de março deste ano, revela que os EUA foram, no período compreendido entre 2013 de 2017, o principal exportador de armas a nível mundial: as suas exportações representaram 34% de todos os negócios registados pelo organismo referido.
O mesmo estudo revela que, nos últimos cinco anos, os EUA aumentaram a venda de armamento em 25%, sendo o Médio Oriente o destino de quase metade desse armamento.