Ataque a Bolsonaro é "resposta de ódio" a quem "prega o ódio"

 "Um cara que prega o ódio recebeu uma resposta de ódio", lamentou, ao Brasil de Fato, a psicanalista Maria Rita Kehl em referência ao ataque a faca contra o candidato a presidente pelo PSL, Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (6) em Juiz de Fora (MG), durante um ato de campanha em um centro comercial da cidade.

Maria Rita Kehl - Reprodução

 Enquanto era carregado nos ombros por um de seus seguranças, Bolsonaro foi perfurado por uma faca na região do abdômen e foi levado à Santa Casa, onde passou por uma cirurgia para reparar perfurações nos intestinos grosso e delgado, segundo informações repassadas pelo hospital à imprensa.

O autor do ataque foi cercado por apoiadores de Bolsonaro e detido ainda no local, antes de ser encaminhado à delegacia. Segundo informações de policiais militares no local, ele teria afirmado que a iniciativa do ataque foi individual, por discordâncias com as ideias defendidas pelo candidato em sua campanha.

"Me parece que quando o dispositivo da democracia entra em descrédito, como a manobra para tirar a Dilma – que já foi picaretagem, por exemplo -, depois a prisão do Lula – uma coisa totalmente arbitrária, que mesmo quem está a favor sabe que é uma jogada suja, que é um 'gol de mão', enfim -, as pessoas começam a apelar. A violência nas ruas aumenta, a violência contra as mulheres aumenta, enfim, a 'psicopatização' da sociedade como um todo aumenta", analisou a psicanalista.

Perfil

Bolsonaro é uma figura conhecida pelo discurso repleto de preconceitos contra mulheres, negros e pobres, além de atacar com rancor movimentos populares como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), além dos partidos identificados com a esquerda.

Há uma semana, durante ato de campanha no Acre, Bolsonaro prometeu a seus apoiadores que, após a vitória eleitoral, iriam "fuzilar a petralhada", em menção aos militantes do Partido dos Trabalhadores (PT). A facilitação do porte de armas para civis é uma das principais bandeiras da campanha do militar da reserva, para que cidadãos possam reagir à criminalidade por conta própria e fazendeiros possam atacar movimentos populares do campo.

O discurso pró-violência de Bolsonaro, que tem despontado como principal nome da extrema direita desde a última eleição presidencial, acompanha o aumento da violência nas relações políticas no país. Em abril deste ano, o violento assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, chocou o país. Ela foi alvejada por tiros ao lado do motorista Anderson Gomes, em seu carro, quando voltava de um debate político com mulheres negras. A polícia ainda não localizou os autores do assassinato ou os mandates, embora haja suspeita de envolvimento de milícias.

Também em abril, a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvejada por tiros enquanto visitava estados da região Sul do país; em 2015, uma bomba caseira foi arremessada contra a sede do Instituto Lula, em São Paulo.