Haddad: 'Sistema bancário é anômalo e precisa de reforma para baixar juros'
Em entrevista ao Jornal da Globo, o candidato Fernando Haddad, da coligação PTPCdoB-Pros, voltou a defender uma reforma non sistema bancários "para baixar os juros na ponta", ou seja, para quem tem renda menor.
Publicado 20/09/2018 10:56
Segundo ele, o sistema bancário do país é "completamente anômalo" e no mundo no mundo inteiro, o lucro é maior que os juros, menos no Brasil.
"A coisa mais comum no exterior é uma pessoa ir ao banco, tomar um dinheiro emprestado e abrir um negócio. Aqui você não vê isso por quê? O juro é tão alto que o lucro não cabe no juro. O lucro é menor do que o juro. Então você não vai ter geração de emprego", argumentou Haddad, reafirmando que no mundo inteiro, o juro é menor que o lucro. "Você paga o banqueiro e sobra um pouquinho para você, e por isso que você emprega gente. Se o juro for maior do que o lucro, você não vai ter chance, você vai quebrar", disse.
O presidenciável defende a cobrança de mais imposto de quem cobra juros acima da média do mercado e menos de quem pratica taxas menores. "O banqueiro que é mais ganancioso vai ter que dividir a ganância dele em tributos. O banqueiro que trouxer a taxa de juro para baixo vai ter um benefício fiscal", acrescentou.
A apresentadora do jornal, Renata Lo Prete, questionou sobre que chamou de "efeito bumerangue" de sua proposta que, supostamente, represaria o crédito para consumidores de perfil mais complicado ou inadimplente.
"Existe o risco se a gente não atuar nos depósitos compulsórios", explicou Haddad. "Nós temos de atuar em várias pontas para fazer o sistema operar", completou.
A proposta "Dívida Zero", de Haddad, foi comparada pela apresentadora do jornal com a "Nome Limpo", apresentada pelo também presidenciável Ciro Gomes (PDT). "O que é diferente na nossa proposta? O Ciro não tocou numa reforma bancária. O Ciro resolveu um problema tópico. Não vai resolver no médio e longo prazo o problema do juro alto para o Brasil. Você vai tirar pessoas do SPC, elas vão voltar depois de um ano, o problema estrutural não terá sido resolvido", apontou ele, reforçando que a sua proposta é mais abrangente.
Segurança
Sobre segurança pública, outro tema de grande preocupação dos brasileiros, Haddad defendeu a criança de um "sistema único de segurança pública no país", nos moldes do SUS, que promova maior integração entre União, estados e municípios e federalizar crimes que envolvam organizações criminosas nacionais, para que o governo federal possa atuar de forma efetiva nas investigações.
"Eu tinha uma enorme dificuldade para negociar com o governo de São Paulo uma visão de segurança territorial na capital (quando era prefeito de São Paulo). Eu era responsável pela segurança de 12 milhões de pessoas e não tinha nenhum acesso ao comando da Polícia Militar. Isso é errado. Outra coisa errada é o Presidente da República dizer: 'olha, governadores, pela Constituição a Segurança Pública é um problema de vocês, cuidem-se'. Não dá mais para isso porque o crime se nacionalizou, então nós precisamos distribuir competência. O prefeito tem que ter competência na segurança", argumentou.
Haddad explicou ainda que a proposta é federalizar os crimes "que envolvem organizações nacionais criminosas", com o objetivo de "liberar forças locais para combater homicídio, feminicídio, estupro, roubo, que é o que aflige a população".
Lo Prete, então, tentou buscou associar o aumento da violência nas regiões Norte e Nordeste em estados administrados pelo PT. Haddad apontou a migração de facções do Sudeste em busca do mercado consumidor de armas e drogas nesses locais.
Reformas
Haddad afirmou que as reformas do governo de Michel Temer trouxeram insegurança jurídica e voltou a criticar a medida do teto de gastos, que corta investimentos em programas sociais.
"Eu não entendo o teto de gastos como uma medida saudável para o Brasil. Você congelar por 20 anos o tamanho do Estado, o que na verdade é uma redução proporcional, se a economia crescer, isso vai colapsar os serviços públicos no Brasil como já está acontecendo", analisou.
Ele disse ainda que o teto de gastos vem acompanhado de baixo crescimento. "Não existe nenhum lugar do mundo que tenha aplicado essa medida. Nem a Grécia, no auge da crise, aplicou essa medida. A Argentina agora está no FMI e não estão impondo essa medida sequer para a Argentina tomar empréstimo. Não é uma medida inteligente. Nós temos obras paradas hoje que nós precisamos concluir para aumentar a produtividade da nossa economia", destacou.
Haddad lembrou que nos governo Lula foi criado um ambiente de negócios, atraindo investimentos estrangeiro. "Aquilo que se dizia que os empresários iriam fugir do Brasil aconteceu exatamente o contrário. O empresário brasileiro ficou e cresceu e nós atraímos bilhões de dólares de investimentos estrangeiros", exemplificou.
Questionado sobre os resultados das pesquisas, Haddad afirmou que o seu crescimento nas pesquisas eleitorais não ocorreu só por causa do apoio do ex-presidente Lula. "Fosse só isso haveria transferência para todo lugar onde ele apoia – e não funciona automaticamente", afirmou o candidato.
O candidato tem 19% das intenções de votos, segundo pesquisa Ibope, e 16%, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (20). Ele tinha 4% tanto na pesquisa Ibope divulgada em 20 de agosto quanto na Datafolha divulgada 2 dias depois.
Haddad disse que "obviamente o presidente Lula é quem mais encarna esse projeto" e tem um legado de dois mandatos, saindo com a maior aprovação da história, e que a coligação tem u projeto que busca retomar o caminho do desenvolvimento, com inclusão.
"Lula é quem mais encarna esse projeto, porque tem 40 anos de estrada e de confiança da população… Lula é uma personalidade mundial. Eu tenho muito orgulho de contar com a confiança dele, mas nós temos um partido que é complexo", disse.