Instabilidade do Brasil e da Argentina dificultam acordo Mercosul-UE

Representantes dos países do Mercosul discutem em Montevidéu, no Uruguai, o possível acordo comercial entre o bloco sul-americano e a União Europeia, mas especialistas apontam que as instabilidades na Argentina e no Brasil são entraves para um desfecho bem-sucedido.

Michel Temer e Maurício Macri - Beto Barata / Presidência

O encontro de Montevidéu tem como objetivo definir estratégias para a concretização do acordo comercial com o bloco europeu, cujas negociações se estendem por duas décadas, sem solução aparente.

De acordo com a coordenadora do curso de Economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, Michelle Nunes, os problemas na economia dos maiores países do bloco, aliados à incerteza eleitoral brasileira, inviabilizam um acordo ainda neste ano.

"O Brasil está num cenário de incerteza absurdo. Estamos em ano eleitoral, mas desde o ano passado, após a mudança da presidência, havia a esperança de uma retomada na economia, que não aconteceu. […] A ideia de parcerias com outros blocos é importantíssima, mas, a curtíssimo prazo, não vamos evoluir, porque temos deveres de casa para resolver", destaca a economista.
Em julho, o presidente Michel Temer se mostrou otimista quanto ao estabelecimento de um acordo de livre comércio entre os blocos ainda este ano:

"Não é improvável que, em setembro, se consiga fechar esse acordo", declarou ele na ocasião.
Na avaliação de Michelle Nunes, o cenário político-econômico de Argentina e Brasil traz incertezas quanto à capacidade de cumprimento de qualquer acordo que venha a ser costurado entre os blocos.

"Todo contrato requer confiança. Se a minha economia não está estável, que confiança eu passo para esse contrato que eu quero fazer? Esse novo presidente que vai ser eleito vai honrar qualquer contrato que eu fizer agora? A Argentina, do jeito que está a sua economia, vai conseguir honrar o contrato? A curtíssimo prazo, é inviável qualquer passo à frente em negociações desse tipo", ressalta a professora.

Os entraves para o acordo de livre comércio ainda incluem aspectos relativos ao setor automotivo, à propriedade intelectual e, em especial, sobre regras de patentes de medicamentos, barreiras sanitárias, indicações geográficas e serviços marítimos.

Elencado como um dos fatores que dificulta o avanço nas negociações no que tange o Brasil, o processo eleitoral ainda não deixa claro o que o mercado pode esperar em termos de política econômica externa do presidente eleito.

"Eles estão chamando atenção ao que acham que dá voto. Uns falam sobre tributos e outros sobre empregos. Eles acabam não abrindo muito a pauta. (…) Se formos pensar em propostas externas, todos falam que é importante fazer comércio, mas são superficiais nesse tema", avalia a especialista.