Patrão reinventa voto de cabresto: MPT recebe 120 denúncias em 4 dias

Parte da classe patronal que adotou a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) também assumiu o estilo totalitário do candidato e nesta eleição, em pleno século 21, reinventou o chamado voto de cabresto, prática da velha República em que os donos de fazendas conhecidos como "coronéis"coagiam os trabalhadores a votar como queriam.

voto cabresto - Reprodução

De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), somente nos últimos quatro dias, foram registradas 120 denúncias de trabalhadores que relataram ter sofrido algum tipo de pressão para votar em um determinado candidato na eleição deste ano. A conduta é proibida por lei.

De acordo com levantamento feito pelo MPT, a região Sul foi a que registrou maior número de queixas até o momento, representando 82,5% do total – foram 61 denúncias em Santa Catarina, 22 no Paraná e 17 no Rio Grande do Sul. Também foram registrados casos no Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Paraíba e Distrito Federal.

"Se ficar comprovado que empresas estão, de alguma forma e ainda que não diretamente, sugestionando os trabalhadores a votar em determinado candidato ou mesmo condicionando a manutenção dos empregos ao voto em determinado candidato, essa empresa vai estar sujeita a uma ação civil pública, inclusive com repercussões no sentido de indenização pelo dano moral causado àquela coletividade", afirmou em nota o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Curado Fleury.

Um dos casos de de maior repercussão foi o do empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, que divulgou nas redes sociais um vídeo fazendo ameaças de que vai demitir seus 15 mil funcionários, caso Jair Bolsonaro não vença a eleição presidencial.

Após ação do MPT, a rede de lojas foi advertida e poderá ser multada em R$ 500 mil, se descumprir decisão da Justiça do Estado.

Outra empresa do Sul, a rede de supermercados Condor, também sofreu sanções da Justiça por pressionar o voto em carta enviada aos funcionários. Pedro Zonta, fundador do grupo, assinou um termo no qual se comprometeu a se retratar. Teve de enviar a funcionários uma carta esclarecendo que "compreende que está vedado ao empregador a prática de qualquer ato que venha a induzir o empregado a seguir uma determinada crença ou convicção política, filosófica ou ideológica". Se descumprir o acordo, estará sujeito a multa diária de R$ 100 mil.

Mas as ações da Justiça não intimidam os empresários. No início da semana, o presidente do conselho da indústria Kyly, Salézio Martins, reuniu funcionários e colaboradores na frente da empresa, em Pomerode (SC), para manifestar apoio a Bolsonaro.

A empresa, que fabrica roupas infantis e tem 1.600 colaboradores, pendurou uma bandeira do Brasil na frente de sua sede e liberou alguns funcionários para cantar o Hino Nacional e ouvir um discurso do executivo.

O empresário Luiz Gastão Bittencourt, vice-presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, defendeu junto aos funcionários do sistema S (como Sesc, Sebrae e Senai) a votar em Bolsonaro.

O comunicado intitulado "Vamos votar com o Brasil!" veio acompanhado de uma bandeira nacional foi divulgado pela intranet do sistema S e dizia: "Voto como cidadão e indico a todos aqueles que acreditam no meu trabalho, nas minhas ações e na minha determinação de servir à sociedade, que votem em Jair Bolsonaro. Votem com o Brasil, com a família e com Deus acima de tudo."