Como pretende a direita brasileira tratar os Direitos Humanos

A questão dos Direitos Humanos surge em tonalidades diversas nos "discursos" da direita brasileira, tão entusiasmada pela vitória do presidente eleito, Jair Bolsonaro.

Por Alexandre Weffort*

bolsonaro e mourão

Por um lado, o futuro ministro da defesa, general Augusto Heleno, terá dito que «há certa inversão de valores nessa história". "Direitos humanos são basicamente para humanos direitos» (1). O general, que tem na mira a criminalidade, acrescenta: «Essa percepção muitas vezes não tem acontecido. Estamos deixando a desejar nesse combate à criminalidade» (idem). E, segundo as notícias publicadas, o general ministeriável concorda com "a polêmica proposta do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de usar atiradores de elite para conter criminosos que portem armamentos de uso restrito" (2).

A questão deve ser tomada como bastante séria, vindo de um general que irá, provavelmente, ocupar a pasta da Defesa no Brasil. E, sendo séria, é também trágica, até pela contradição que representa essa posição de desrespeito pelo valor da vida humana, quando se conjugam os "direitos humanos" apenas para os "humanos direitos". Mesmo com muita oração e discursos de pendor religioso, a vida humana merece pouco crédito para a direita que se propõe governar o maior país da América Latina.

Como não podia deixar de acontecer, à tragédia sobre o tema sucede a comédia, desta feita com outro personagem da direita, o deputado federal eleito Alexandre Frota. O ex-actor porno, agora investido na categoria de intelectual orgânico da nova direita brasileira, expõe o seu entendimento sobre o mesmo tema abordado pelo general de forma mais explícita: pretende «destituir (sic!) os direitos humanos» (3).

Destituir?? O novo intelectual orgânico da direita lá saberá o que quer dizer com isso. Mas, podemos constatar que, ouvindo a fala do general, Frota não conseguiu captar a subtileza da «certa inversão de valores …». Aparentemente, para Frota, os "humanos direitos" são, tão somente, os "de direita". Justifica-se a confusão com a natural falta de prática do iniciante na política e pelo pouco domínio que revela da arte da retórica.

Por outro lado, numa cerimónia religiosa, na congregação de Silas Malafaia, Jair Bolsonaro afirmava ter a certeza que não era o mais capacitado, mas que Deus capacitava os escolhidos (4). Estamos de acordo com a primeira parte: não é o mais capacitado. A segunda parte é mais complexa, se tomarmos como medida da incapacidade a que é patente no intelectual orgânico atrás referido. Por um lado, será tarefa impossível preencher tais lacunas e, por outro, porque com tal sinal de leviano desrespeito pela vida humana dado pela direita vitoriosa, nenhuma religião conseguirá justificar a evocação divina que é frequentemente (e, dirão outros, abusivamente) feita.

Por fim, não podemos esquecer que essa mesma direita pretende (entre duas orações, se seguirmos a fala do ainda senador, cantor e pastor Magno Malta), a criminalização dos movimentos sociais, como o MST e o MTST (5). Começa cedo a definir-se a cor do novo fascismo brasileiro. Não há, todavia, espaço para ingenuidade. A forma tosca a que recorre o deputado, na tradução do pensamento do general, é parte de uma estratégia pensada de banalização da violência, condimento necessário para uma aceitação mais fácil da ideologia fascizante que se manifesta.

Referências:

• https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,general-heleno-diz-que-ha-inversao-na-discussao-sobre-direitos-humanos,70002576349s.
• http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-10/general-heleno-defende-uso-de-atiradores-de-elite-contra-criminosos.
• https://www.noticiasaominuto.com/mundo/1110033/depois-de-eleito-alexandre-frota-quer-acabar-com-direitos-humanos.
• https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-participa-de-culto-com-malafaia-no-rio-deus-capacita-os-escolhidos-23200243.
• https://www.revistaforum.com.br/aliado-de-bolsonaro-magno-malta-quer-votar-hoje-ampliacao-de-lei-para-criminalizar-movimentos-sociais.

*Alexandre Weffort é professor, mestre em Ciência das Religiões e doutorando em Comunicação e Cultura.