'Escola sem Partido na USP é impossível', garante reitor

O reitor da Universidade de São Paulo (USP), Vahan Agopyan, advertiu que a autonomia universitária, assegurada pela Constituição, impede que um projeto como o Escola sem Partido seja aplicado na instituição.

Vahan Agopyan - Reprodução

O projeto, que está em debate na Câmara dos Deputado, pretende colocar um mordaça do debate e abolir o direito à livre manifestação do pensamento, sob a suposta tese que acabar com o que chamam de "doutrinação ideológica" nas instituições de ensino. Para o reitor, mesmo que a lei seja aprovada, a autonomia universitária, dada pela Constituição, permite com que as ideias de impedir discussões políticas, de gênero e sexualidade vinguem nas instituições de ensino superior.

"Na universidade é impossível, pela gênese da universidade. É um local de debate. No auge da ditadura os debates eram intensos aqui. Obedecemos às leis, mas coisas que ferem a autonomia da USP, a USP não precisa seguir. Isso fere. Porque a universidade é um locus de debate. Você não pode impedir", salientou.

Ele também disse que a campanha de perseguição contra professores não terá espaço na USP, se referindo ao disque- denúncia proposta por lideranças e pelo próprio Jair Bolsonaro. "Denunciar para quem? Eu não vou criar um mecanismo de controle ideológico dentro da universidade", declarou.

Vahan Agopyan salientou que a preocupação não deve ser com o debate de ideias dentro das universidades, mas sobre mudanças no financiamento universitário. Para ele, “a sociedade não entende” a importância de uma universidade de pesquisa, como a USP. “Políticos dos dois lados afirmam coisas muito similares. De um lado, ensino é caro, então privatiza. De outro, o ensino superior é caro e precisamos fortalecer o básico. São dois discursos diferentes, mas o que querem dizer é que a universidade está cara e não precisamos dela”, rebateu.

Ele criticou a proposta do futuro governo de cobrança de mensalidades nas universidade públicas. “O grosso dos nossos alunos é classe média baixa. Não vai poder cobrar US$ 75 mil como Yale, nem os ricos brasileiros têm. A última vez que fizemos umas contas, para cobrar em proporção com que o aluno tem, as mensalidades não davam nem 8% do orçamento da USP”, afirmou.