Saúde para todos nos Estados Unidos

Membro da organização da campanha pelo Medicare for All, o autor, um socialista democrata, analisa neste artigo as vacilações interesseiras dos políticos democratas nos EUA.

Por Tim Higginbotham *

Saúde Estados Unidos

O Medicare for All (Saúde para todos, em tradução livre) ameaça os principais interesses dos grandes doadores ao Partido Democrata; por isso os democratas oferecem a opção pública como uma alternativa paliativa.

Bernie Sanders fixou o lugar do Medicare for All no imaginário popular com na campanha presidencial de 2016. Desde então, a popularidade dessa política de saúde continuou a crescer: várias pesquisas recentes mostram que 70% dos americanos apóiam àquela política que cobriria todos os habitantes do país através de um abrangente plano de seguro nacional.

Esta é uma má notícia para os democratas do establishment, que têm interesse em manter o sistema com base no mercado que existe hoje. Na tentativa de combater o Medicare for All, eles se uniram em torno de uma abordagem menos radical que possa preservar o setor de seguros privados e manter seus doadores contentes – a "opção pública".

É uma ideia auto-explicativa: basicamente, o governo permitiria que as pessoas “comprassem” o seguro de saúde pública, seja através do Medicare, do Medicaid, ou de um plano público no mercado. Os defensores da opção pública adoram argumentar que as pessoas estão felizes com seus planos privados, e que o que elas realmente querem é – nas palavras do senador democrata pela Virgínia, Tim Kaine – "mais escolhas, não menos".

Esta não é uma avaliação honesta da opinião pública. As pesquisas mostram que 71% dos trabalhadores dizem estar "satisfeitos" com o seguro patrocinado pelo empregador – em um país onde a alternativa é não ter nenhum seguro. Mas, na realidade, quase todos estão preocupados com a cobertura de saúde e em busca de segurança na área.

As contas do Medicare for All, na Câmara e no Senado, dariam segurança ao garantir uma cobertura igual e abrangente a todos, através de um único programa público. Os planos de opção pública, por outro lado, competiriam com as seguradoras privadas no atual sistema baseado no mercado, e perpetuariam a cobertura desigual, a falta de seguro e os atuais custos proibitivos.

Não é nenhum mistério por que os principais líderes democratas temem o Medicare for All. Sua enorme popularidade entre seus eleitores os coloca em uma posição desconfortável ante seus doadores. Ao propor meias medidas, eles esperam confundir o debate e obter margem de manobra para manter confortáveis seus relacionamentos com os executivos do setor de seguros.

Além das razões obscuras de sua existência como proposta legislativa, a opção pública é simplesmente má política. Ao contrário do pagador único (que seria o Medicare for All), a opção pública não se livra de seus custos; não dará liberdade de escolha de médico e hospital; e não separará os serviços de saúde do emprego, deixando milhões atados a empregos que detestam apenas para poderem manter seu seguro saúde. Mas esta é a chave – não será universal.

A maior força política do pagador único (o Medicare for All) é sua cobertura universal. Cobrindo a todos e eliminando alternativas de seguro privado, o pagador único carrega um eleitorado maciço.

A opção pública não tem estas garantias políticas. Ao adicionar algumas pessoas a um plano público, deixando milhões sob seguro privado, a opção pública dividiria o eleitorado de que necessitaria para ser politicamente viável. Abordagens fragmentadas dos cuidados de saúde geram inveja, ressentimento e bodes expiatórios. Por outro lado, abordagens universais geram solidariedade.

Se queremos uma reforma de saúde que sobreviva a tentativas ininterruptas de desmantelamento, todos precisam serem beneficiados pela legislação. Dessa forma, todos têm interesse em garantir sua continuidade. É por isso que o nosso lema sempre foi todo mundo, ninguém fora.

À medida que o Medicare for All se torna cada vez mais viável, nossa principal luta em sua defensa é evitar que ele seja diluído ou substituído por um plano de opção pública. Não é uma tarefa fácil pois enfrentamos todo o sistema do Partido Democrata e, ao mesmo tempo, lidamos com ataques sem fim da direita. Mas temos que permanecer vigilantes. Os cuidados de saúde nunca serão verdadeiramente universais até serem eliminadas as barreiras financeiras para cuidados e cobertura para com um único programa público. A opção pública não vai nos levar até lá.