Bolsonaro: a nova face do racismo no Brasil

O Movimento Negro brasileiro nesse dia 20 de novembro mais uma vez rememora a luta heroica simbolizada por Zumbi dos Palmares. O contexto histórico e a inspiração que moldaram o mais conhecido herói popular são conhecidos: esforços coletivos contra a opressão do escravismo, e um símbolo que amalgama a reação do povo brasileiro contra o racismo na atualidade.  

*Por Rosa Anacleto



20 de novembro

No Brasil, o racismo é um inimigo cruel, silencioso, eficiente, multifacetado, com grande plasticidade, capaz de moldar-se em diferentes conjunturas para atingir seu fim estratégico: beneficiar uma minoria em detrimento da maioria – bom que se diga todos que advogam um país justo, uno, próspero e desenvolvido sofrem direta ou indiretamente seus impactos.

A face que mais caracteriza o inimigo de Zumbi dos Palmares e dos sonhos de negros e negras libertárias é Bolsonaro, junto com ele, as forças ultrarreacionárias que o elevou ao poder e o sustentará até o final de seu mandato na Presidência da República – quiçá seja breve. No ano que completam 130 anos da Abolição e 100 anos do nascimento de Nelson Mandela a grande marca que a História registrará é a vitória do fascismo no Brasil. Estamos diante da derrota da Política. Política no sentido de instrumento de distribuição de justiça econômica e social, ferramenta para observância do bem comum. Bolsonaro é a expressão máxima da política para a cruel dominação de classes, do horror de uma minúscula minoria enriquecida a custa do trabalho, fome e desesperança da população. A política como lugar da roubalheira, do enriquecimento ilícito e do mal.

A constatação do significado de Bolsonaro e do caráter que tomará seu governo tem como base sua vida pregressa, a campanha eleitoral, as propostas que apresentou ao Brasil, o perfil dos seus altos auxiliares escolhidos até o momento e as declarações dele e de seu núcleo político. Há uma sinistra linha temporal absolutamente coerente: defesa da tortura e dos obscuros anos da ditadura militar; desrespeito as mulheres, negros, população LGBT e outras minorias políticas que precisam da proteção do Estado; nenhuma proposta que assegurasse algum bem estar ao povo, nem na área de segurança, que em tese atua; todos seus votos ao longo dos 28 anos de mandato foram em oposição aos trabalhadores, o exemplo mais clássico foi o voto contra a PEC das domésticas, único parlamentar que ousou a dizer que uma empregada doméstica não merece os mesmos direitos de todos os trabalhadores brasileiros: férias, 13º, hora extra, fundo de garantia; além de escamotear seu projeto para o Brasil aos eleitores fugindo dos debates, mentiu descaradamente durante a campanha através dos fake news, espantando a imprensa e os observadores internacionais; atacou a democracia ao ameaçar fechar STF, reiterou inúmeras vezes que não reconheceria qualquer resultado eleitoral que não fosse sua a vitória, ameaçou a imprensa e prometeu perseguir adversários políticos e criminalizar os movimentos sociais.

A lista de maldades é grande de sua boca ouvimos que: vai armar a população e autorizar assassinatos; não reconhecerá direitos indígenas e quilombolas; vai aprofundar ainda mais a precarização do trabalho ao adotar o lema “mais trabalho e menos direitos”; perseguirá professores, a educação superior e a ciência; alinhará a política externa brasileira com as estratégias do megalomaníaco presidente dos EUA, Donald Trump, podendo gerar mais desemprego e instabilidade, além de subverter uma tradição da política externa brasileira de respeito as soberanias nacionais, nossa diplomacia se notabiliza pelo diálogo e convencimento desde 1876, época de Rio Branco; sua política ultraliberal propõe ataque a aposentadoria; sucateamento das políticas sociais visando seu término; liquidação das ações afirmativas; venda abusiva de todo patrimônio público como Petrobrás, Eletrobrás, Casa das Moedas, Caixa Econômica e Banco do Brasil; desmatamento indiscriminado.

Temos dito há algum tempo, em ambiente de crise, de ataques a democracia, de triunfo do neoliberalismo e de ascensão de forças conservadoras ao poder recrudesce o racismo e vulnerabiliza ainda mais a população pobre, em especial as discriminadas racialmente. Por isso, manter a democracia, impedir a desnacionalização de patrimônios e riquezas nacionais e garantir direitos é uma causa intrínseca do antirracismo, não há possibilidade de avançar em qualquer item da pauta racial com a Nação violada, saqueada e o povo sem direitos.

É patente que o principal desafio do movimento, coletivos e lideranças negras é denunciar o significado de Bolsonaro nas periferias de todo Brasil, dar um mergulho profundo no seio do povo, convocá-lo ao combate. Esse movimento não pode ser solitário, deve se somar as amplas frentes políticas e sociais que unem o povo em defesa da democracia, da pátria e dos direitos.