Uma militância impetuosa e transformadora

Como uma seta, movida à energia solar, a militância de Aldo Arantes não para.

Por Adalberto Monteiro*

Aldo Arantes

Como uma flecha que perpassa uma maçã, ela atravessou, de ponta a ponta, grande parte da segunda metade do século XX. Seu ponto zero é o ano 1956, quando Aldo tinha lá seus 17 anos e fez um discurso no Grêmio do Lyceu de Goiânia contra a ocupação do Canal de Suez. De lá para cá, são quase 60 anos de vida militante, com presença destacada em acontecimentos marcantes da história da República. Estamos na segunda década do século XXI e a seta segue infatigável, incandescente, descrevendo uma trajetória de batalhas e realizações.

Vida assim tão prodigiosa – regida por uma militância impetuosa e transformadora que nasceu no ativismo do cristianismo libertário e evoluiu para as fileiras da revolução e do comunismo – deve ser narrada, contada, alardeada. Por isto, a Fundação Maurício Grabois incentivou Aldo Arantes a escrever e a publicar Alma em Fogo, livro que conta com o apoio institucional desta Fundação.

Alma em Fogo** abarca quatro gerações de lutadores e lutadoras, com a militância de Aldo a elas irmanada. Hoje, com 74 anos de idade, ele convive e milita com os veteranos de sua geração e, com a mesma desenvoltura, dialoga, partilha a energia das ruas com a juventude do presente.

Aldo foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1961, numa gestão tão realizadora que até hoje reverbera. Quando os golpistas atuaram contra a posse de João Goulart, lá estava ele, na linha de frente da Campanha da Legalidade, comandada pelo governador Leonel Brizola. Foi um dos fundadores da Ação Popular (AP), importante organização revolucionária. E quando desabou sobre a Nação o golpe de 1964, participou da resistência à ditadura militar, o que lhe custou onze anos de vida clandestina. Junto com Haroldo Lima e Renato Rabelo, em 1972, liderou a incorporação da AP ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e desde então é um dos principais dirigentes da legenda comunista. Preso em 1976, no episódio da Chacina da Lapa, padeceu atrocidades e torturas em dois anos e 8 meses de prisão.

Em 1979, a Anistia libertava dos cárceres os presos políticos. Então, Aldo voltou a Goiás, sua terra natal, e participou da ofensiva final contra a ditadura. A partir de 1983, ao exercer pela primeira vez mandato como deputado federal, Aldo teve intensa atividade parlamentar que se estendeu, com pequena descontinuidade, até 2002. Foram vários mandatos de deputado federal e um de vereador de Goiânia, exercidos unha e carne com a luta do povo e dos trabalhadores. A um só tempo teve papel relevante na agenda de primeira grandeza da República e na defesa do povo goiano e dos interesses de Goiás.

Sempre atento às transformações, foi um dos primeiros a perceber que a esquerda havia se atrasado em compreender a importância da questão ambiental para o desenvolvimento. Por isto, atualmente suas energias estão concentradas nesta temática, tendo contribuído efetivamente para forjar uma concepção que contemple o necessário equilíbrio entre desenvolvimento e proteção ambiental.

Alma em Fogo é uma vida que se abre e se revela. Aldo Arantes se desnuda em carne, osso, sangue e sentimentos. Assim, vêm à tona para além do militante, o filho, o pai, o avô, o marido, o amigo. É uma leitura que nos enriquece, que nos sacode e nos diz que a militância por um mundo novo de paz e solidariedade, não importando as agruras, é uma escolha que dá sentido, alegria e prazer à vida.