Fortaleza recebe peça “Soledad – a terra é fogo sob nossos pés”

O Teatro Dragão do Mar sedia nesta sexta-feira (21) e sábado (22), sempre às 19h, a peça “Soledad – a terra é fogo sob nossos pés”. Interpretada pela atriz pernambucana Hilda Torres, o espetáculo conta a história do país pelo viés da vida de uma mulher que foi assassinada pelo regime militar brasileiro, em 1973.

Fortaleza recebe peça “Soledad – a terra é fogo sob nossos pés”

Era início de 2015. A conjuntura sócio-política brasileira já dava sinais que tempos conturbados estavam por vir. Uma agenda de intolerância, medo e perseguição à arte e artistas voltava a ser adotada escancaradamente no país. Em meio a esse contexto, 42 anos depois da morte da militante paraguaia Soledad Barrett Viedma, assassinada pelo regime militar brasileiro em 1973, na Região Metropolitana do Recife, surge o espetáculo Soledad – a terra é fogo sob nossos pés.

“Sol”, como era conhecida por amigos e familiares, foi entregue à morte pelo seu então “companheiro”, o infiltrado político mais conhecido da história do Brasil, o Cabo Anselmo. Ela estava grávida dele e foi assassinada junto a outros cinco jovens, em um dos episódios mais sangrentos da ditadura brasileira: o massacre da Chácara São Bento.

A dramaturgia do espetáculo surge a partir da cronologia da personagem, alcançada através de pesquisas de campo, músicas da época, poesias (muitas de ex-presos políticos), cartas, entrevistas, acesso a documentos e o contato com familiares – especialmente as parceiras do projeto, Ñasaindy e Ivich Barrett (filha e neta de Soledad, respectivamente).

Entretanto, a encenação não tem o objetivo de se restringir apenas a uma perspectiva memorialista, mas também se apresenta como um espaço poético que conta a trajetória dessa mulher “viva”, rompendo o estigma da “mulher assassinada”. Nesta obra, assim como em sua vida, Soledad é protagonista de sua própria história.

A peça é encenada pela atriz pernambucana e idealizadora do projeto, Hilda Torres. A direção é da atriz e diretora que nasceu na Argentina, mas foi ainda pequena para São Paulo, Malú Bazán. As duas são responsáveis pela construção da dramaturgia, que toma fôlego a partir de uma costura entre diversos instrumentos de pesquisa e obras poéticas que datam de 1904 até a contemporaneidade.

Recentemente, em março de 2018, o espetáculo iniciou sua primeira circulação internacional, passando pelo Paraguai (onde Soledad nasceu) e Uruguai (onde deu seus primeiros passos na militância autônoma). Em seguida, o projeto segue para Cuba (onde Soledad casou, engravidou, pariu e treinou antes de chegar ao Brasil).

Concomitantemente, a partir dos dias 21 e 22 de dezembro, o Grupo Cria do Palco inicia em Fortaleza uma Circulação Nacional do espetáculo. Além das apresentações, o projeto também realizará um debate com as participações da equipe técnica e artística da peça, Ñasaindy Barrett (filha de Soledad) e o artista Rogério Mesquita. Além disso, aos 96 anos de idade, Dona Maria de Lourdes Albuquerque será homenageada por sua coragem e abnegação no combate à ditadura brasileira. Vale ressaltar que ela também é responsável pela confecção de uma boneca usada em cena pela atriz Hilda Torres.

Com duração de 60 minutos, o solo desloca o espectador pra uma época aparentemente conhecida, mas pouco entendida e ao mesmo tempo levanta questões da atualidade, proporcionando um espaço de reflexão, provocação e possibilidades, sobretudo nos dias atuais. Trata-se de uma narrativa que traça um ousado “diálogo” entre o passado e o presente, nos levando a perceber que as coisas não mudaram tanto assim.

Palavras da diretora

“O trabalho partiu da inquietação e do desejo da atriz Hilda Torres em contar essa história. E o projeto contou, desde o início, com a ajuda de muitas pessoas: ex-prisioneiros políticos, militantes da época que tiveram contato com Soledad, ou não, além de parentes e compatriotas paraguaios. Também recebeu o apoio de militantes contemporâneos, que entenderam a relevância do projeto como contribuição importante para diversas lutas sociais, como as de gênero, direitos humanos e a do entendimento da arte como instrumento de formação e empoderamento sociopolítico e cultural. Um espaço de reflexão, provocação e possibilidades”.

Palavras da atriz

“Falar sobre Soledad é traçar um caminho de poesia onde a dor e a alegria estão juntas, seguindo em marcha para erguer ideais libertadores. Falar sobre “Sol” é falar de um pedaço de todos nós, que nos impulsiona diariamente a enfrentar, resistir, sem nunca abrir mão do brilho nos olhos ao imaginar um mundo melhor, com direitos iguais para todos e todas, na compreensão das nossas diferenças”.

Sinopse

O espetáculo conta a história de Soledad Barrett Viedma (1945-1973), militante paraguaia, que após ter lutado em diversos países da América Latina, veio militar no Brasil. No Recife, teve sua trajetória de lutas e idealismo interrompida brutalmente, em um dos episódios mais violentos da ditadura brasileira: o massacre da chácara São Bento. A obra, contudo, não se restringe a um caráter memorialista, mas abrange algo que se quer contar hoje, traçando um ousado diálogo entre o passado e o presente.

Participações especiais

A artista plástica, pedagoga, musicista e compositora, Ñasaindy de Araújo Barrett (filha de Soledad) se integrou ao projeto cedendo uma de suas composições para a trilha sonora do espetáculo e assinando a sua identidade visual. Ivich Barrett, neta de Soledad, assina o teaser do espetáculo.

Sobre a atriz

Hilda Torres é atriz e psicóloga. Com 20 anos de carreira, Hilda atua no teatro, com experiências pontuais em televisão e cinema. Atuou em peças como “Essa febre que não passa”- Dir. André Brasileiro e Marcondes Lima e “Autônomas”- Dir. Jorge Clésio. Na televisão, atuou na minissérie “A pedra do reino”. No cinema, seus últimos trabalhos foram “A felicidade não é deste mundo” e “Ursos camaradas”. “Soledad – a terra é fogo sob nossos pés” é o seu primeiro monólogo. Hilda foi premiada como melhor atriz do teatro pernambucano em 2016, escolhida pela Associação dos Produtores de Teatro de Pernambuco – APACEPE.

Serviço

“Soledad – a terra é fogo sob nossos pés”

Local: Teatro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81, Iracema)
Dias: 21 e 22 de dezembro:
Hora: 19h
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Classificação: 14 anos