Comunistas lideram protestos contra entrevista fascista em Portugal

Partido Comunista, sindicato de jornalistas, ministro da Defesa e entidades antifascistas se manifestaram.

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O Partido Comunista Português (PCP) pediu a atenção urgente, no parlamento, do conselho regulador da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) sobre o caso da entrevista à TVI de Mário Machado, líder de um movimento de extrema-direita. A Assembleia da República, “enquanto órgão de soberania representativo da democracia portuguesa, não deve permanecer indiferente perante atentados aos valores democráticos e humanistas”, lê-se no requerimento, assinado pela deputada comunista Diana Ferreira.

O PCP quer que se analise com a ERC, na comissão parlamentar de Educação, Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, “a questão da apologia do fascismo, do racismo, e de práticas criminosas que lhe estão associadas” e qual a “resposta a dar pelas instituições democráticas ao fenómeno”. Mário Machado, condenado por envolvimento na morte de Alcino Monteiro, foi convidado no âmbito da rubrica “Dica de sua (In)Justiça”, do programa “Você na TV”, da TVI, na quinta-feira, que tinha como tema “Precisamos de um Novo Salazar?”.

O ex-líder da Frente Nacional esteve preso dez anos por crimes como discriminação racial, coação agravada, posse ilegal de arma, danos e ofensa à integridade física qualificada. No requerimento, o PCP alegou que Machado pertence a “uma organização criminosa que assume a sua natureza fascista e racista” e condenado pelo “homicídio de um cidadão cabo verdiano”. É “um caso” de “particular gravidade” por se tratar de um “criminoso assumido e condenado por crimes de sangue de cariz racista”, argumenta.

Num comunicado intitulado "Em nosso nome não!", o Sindicato dos Jornalistas considerou “inqualificável o tempo e o espaço concedido pelo canal de televisão TVI a Mário Machado, conhecido líder da extrema-direita, várias vezes condenado e preso por diversos crimes”, escreveu o sindicato. “É fundamental que o jornalismo se exerça em defesa da democracia, sem a qual a liberdade de expressão não existiria […]. Esse mesmo contexto, de crescimento da extrema-direita, do populismo e do nacionalismo, impõe que os jornalistas reflitam sobre o papel que desempenham na eliminação do racismo, da xenofobia e da discriminação”, prossegue a nota.

Ministro

O ministro da Defesa, João Cravinho, também se manifestou. “Vivemos tempos complexos e é preciso ter a noção que uma atitude destas por parte da estação em causa não é muito diferente de quem ateia incêndios pelo prazer de ver as labaredas”, escreveu o ministro numa publicação na sua conta do Twitter.

A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) apresentou queixa contra a TVI junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social. “A URAP apresentou queixa contra o canal de televisão TVI junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) por esta, no programa ‘Você na TV’, de 3 de janeiro, ter difundido concepções fascizantes contrárias ao texto da Constituição da República Portuguesa”, disse a URAP em comunicado.

No documento, a URAP considera que a presença de Mário Machado no programa é uma “ofensa aos valores democráticos”. “A presença de Mário Machado, um indivíduo com um percurso associado a extrema-direita e a atos criminosos e de ódio racial e intolerância, bem como a rubrica na qual se perguntava se “precisamos de um novo Salazar, constitui uma ofensa aos valores democráticos e a todos quantos se opuseram ao fascismo em Portugal”, acrescenta. A associação “SOS Racismo” também exigiu das autoridades responsáveis pela supervisão da comunicação social que tomem medidas.

Com informações da mídia portuguesa