Lucinthya Gomes: Comunicação além das redes sociais

"O posto obriga a conversar com toda a população, não apenas com o próprio eleitorado”.

Por Lucinthya Gomes*

As últimas eleições mostraram a inegável força das redes sociais na construção de um diálogo entre candidatos e eleitorado. Mas a relação de eleitos (principalmente a cargos do Executivo) com a população parece ainda exigir uma estratégia de comunicação, digamos, mais convencional.

Quando candidato, Jair Bolsonaro (PSL) rompeu com o padrão de campanhas anteriores, demarcou presença nas redes sociais muito antes da disputa começar oficialmente e venceu as eleições mesmo com pouco tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV. Uma vez eleito, contudo, o presidente da República depende de respaldo da população para governar e, por isso, precisa ampliar o alcance do seu discurso.

Diante de ruídos de comunicação entre os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Paulo Guedes (Economia), e também do constrangimento causado pela investigação ao filho do presidente, Flávio, e seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, no Caso Coaf, alguns movimentos do governo e do grupo político mais próximo a Bolsonaro já demonstram uma mudança de conduta, ainda que sutil.

Ontem, Flávio publicou em suas redes sociais uma "nota à imprensa" para afirmar que continua a ser "vítima de uma campanha difamatória com objetivo de atingir o governo de Jair Bolsonaro". Poderia ter sido apenas mais uma publicação dirigida a seus seguidores, mas a menção à imprensa a reconhece como destinatária e canal para fazer a mensagem ir além.

Também pode ser citada como exemplo a informação divulgada pelo porta-voz do presidente, Otávio Santana do Rêgo Barros, no último domingo.

Segundo ele, Bolsonaro está estudando "com carinho" a possibilidade de fazer comunicações diárias à imprensa e responder a perguntas de jornalistas.

Ainda segundo o porta-voz, a Presidência considera também classificar notícias sobre o governo de acordo com o nível de impacto no presidente. Tal medida teria finalidade de embasar estratégia para diminuir o efeito de polêmicas e potencializar a agenda positiva.

Os passos podem ser um sinal, ainda que mínimo, da compreensão de que o posto obriga a conversar com toda a população, não apenas com o próprio eleitorado.

*Lucinthya Gomes é jornalista.

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