Sidnei Aranha: Papo de Soldado para Soldado

Vejo que o pessoal do Bolsonaro fala muito de regime militar, disciplina da caserna, de gente vibrando, de combatente, mas me pergunto: Quantos viveram esta experiência?

Soldado

Eu estive no Exército em 1986, no então 2 BC em Sao Vicente, 2 Cia de Fuzileiros, Pelotão de Apoio, exatamente um ano após o término oficial do Regime Militar (1964 até 1985) e passei por experiências bastante intensas, ainda sob a influência de uma transição, estava lá no início do Governo Sarney, no tabelamento de preços, na escassez de carne, enfim, fiquei até vários dias na mata no entorno da Carbocloro porque havia relato de atividade subversiva (hoje faço parte do inimigo de outrora).

Inúmeras greves pipocando, qualquer paralisação da Cosipa, ou do Porto, lá íamos para garantir a ordem (ou a desordem).

Um tipo de serviço era disputado no tapa, a ronda na Rua General Câmara no centro de Santos, pois cuidávamos até do meretrício – das primas (resquício de regime de exceção).

Tudo isso, dosado com muitos exercícios reais,e longos acampamentos no meio do mato ,que não agradavam a ninguém, este tipo de instrução era demasiadamente violenta.

O que se tinha lá, quem esteve no EB, em especial na Infantaria, sabe do que estou falando, era o enorme respeito aos combatentes que nao fugiam a qualquer instrução (guerreiros) e, por outro lado, nutríamos desprezo ao "enganador", ao "cagalhão" que no primeiro anúncio de um acampamento, por exemplo, corria para enfermaria para fugir do combate e do enfrentamento duro que qualquer soldado tinha que viver, pois a dificuldade é o cotidiano da soldadesca. Parasitas, que fingiam uma doença ou potencializavam situações "bobas".

Diante desta lógica, que reina nos quartéis, fica clara a diferença entre combatente de fato e o enganador/cagalhão. Como alguém que viveu na caserna minimamente, pode enaltecer um "Capitão" que corre para "enfermaria" nos debates? Ou ainda no momento de eleição dos Presidentes da Câmara e do Senado, donde se exige posição forte do Chefe do Executivo, corre novamente para "baixar enfermaria" e "sair fora" para não cantar seu nome no BI (Boletim Interno)? Nao enfrenta os embates duros de seu mister?

Sinceramente, aqueles que adoram o heroísmo dos militares, trocaram gato por lebre, pois imaginaram um combatente e elegeram um MOCORONGO. "Cuidado soldado Bisonho, logo mais, o sargento de dia, fará de conta que não vê, e o Mourão vai te dar um belo pacote."