BRICS International Forum – A questão Indiana
Na última semana aconteceu em Nova Déli, Índia, um evento organizado pelo BRICS International Forum, organização não governamental que tem por objetivo fomentar a iniciativa de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para além dos seminários e das cúpulas oficiais de governo.
Publicado 23/03/2019 19:53 | Editado 04/03/2020 17:15

O evento foi um rico espaço de articulação política e estabelecimento de cooperação internacional nas áreas da educação, economia, negócios, empreendedorismo, ciência e tecnologia. Além de um profundo intercâmbio cultural entre os cerca de 15 países representados.
Além do evento envolvendo a representatividade das nações emergentes mais importantes do mundo, a visita aos camaradas do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil foi esclarecedora. Há alguns meses recebemos notícias de grandes mobilizações do povo indiano: contra a violência de gênero que perfez um muro de mulheres ombreadas com mais de 620 quilômetros e também dos trabalhadores, liderados por suas centrais sindicais, onde mais de 200 milhões aderiram à grande greve de 4 dias contra a precarização das condições de trabalho e falta de democracia.
O mais relevante disso tudo, ainda, é o protagonismo exercido pelo PCI – Partido Comunista da Índia, que depois de toda essa movimentação levou mais de 1 milhão de militantes, amigos e simpatizantes das ideias revolucionárias ao comício da “Brigada Popular”. A sociedade altamente desigual da Índia, somada ao esforço comunista para combater a pobreza, fortalecer a luta por direitos e dignidade para a classe trabalhadora está sendo responsável pela disseminação em larga escala das ideias comunistas. O Partido conta com mais de 100 deputados federais de um total de 545 e com a simpatia de mais de 50% da população.
A avaliação dos camaradas indianos a respeito do governo é bastante reveladora. A República da Índia é governada pela Aliança Democrática Nacional, coalizão liderada por Nerendra Modi, o primeiro-ministro. Na avaliação comunista, o atual governo indiano apresenta fortes características nazistas uma vez que a política de nacionalismo exacerbado tem implementado uma forte perseguição a opositores, que são classificados como anti-Índia apenas pelo fato de serem contrários à determinadas políticas governamentais e também proporciona a ascensão de linhas ideológicas extremistas como o movimento “Índia para os Hindus.”
Há ainda uma intransigente agenda de precarização do trabalho em curso, muito parecida com a que enfrentamos por aqui. Existe um discurso propagado pelo governo onde sacrifícios precisam ser feitos para beneficiar os empresários empregadores em detrimento dos direitos adquiridos pelo povo trabalhador. Então o trabalho informal, o trabalho intermitente, o trabalho que permite jornadas mais extensas e até mesmo uma reforma do sistema de aposentadorias estão sendo pautados na Índia. Tais políticas são as grandes propulsoras do movimento grevista de massas que tem como norte a máxima: “se eles estão te atacando, ataque de volta!”.
Até mesmo a crise bélica com o Paquistão é classificada como uma jogatina eleitoreira do atual governo. As políticas pró-patrão e antidemocráticas acabaram provocando uma forte queda na popularidade do primeiro-ministro Modi, o que é um problema às vésperas das eleições que estão marcadas para o mês que vem. Iniciou-se então a movimentação de guerra com dois objetivos: criar condições para um adiamento do pleito e elevar a popularidade do atual governo através da exploração do sentimento nacional. Os objetivos de adiar as eleições fracassaram, contudo a atuação do governo diante do conflito promoveu um considerável aumento de popularidade do chefe de Estado indiano.
Diante da implacável ofensiva do capital, o Partido Comunista da Índia e as centrais sindicais iniciaram uma robusta movimentação para consolidar a frente ampla de enfrentamento e resistência aos retrocessos impostos. Muito parecido com a movimentação dos comunistas brasileiros em defesa da democracia e dos direitos adquiridos, as semelhanças na conjuntura e na ação partidária escancaram que a agenda conservadora estimulada no Brasil é, na verdade, um projeto global de enfraquecimento da classe trabalhadora e das suas organizações de vanguarda.
Daí a importância da articulação entre organizações da sociedade civil dos países BRICS. O bloco responde por quase metade da população mundial e tem forte influência geopolítica, mesmo entre as nações do “establishment”. Identificar e neutralizar as tentativas coordenadas de enfraquecer o bloco e o povo dos países membros é essencial na organização integrada das massas populares que, no final das contas, são a melhor ferramenta de consolidação da ideia de um mundo multipolar.