Trump destina US$ 1 bi para ofensiva geopolítica

É o maior gasto militar da história.

EUA

O jornal português Expresso publica matéria, de Jorge Nascimento Rodrigues, com o mote de que a tese do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de um orçamento “para uma América melhor” implica o maior gasto militar da história do país. O governo de Washington propôs ao Congresso um aumento do déficit federal no ano orçamental de 2020 (que começa em outubro de 2019) para mais de US$ 1,1 bilhões, o mais alto desde 2011, na presidência de Obama, diz a matéria.

A subida é pequena — não chega a 1% — em relação ao ano orçamental anterior, mas significa um aumento para quase US$ 1 bilhão das despesas com todas as rubricas da defesa. Segundo o texto, o economista Prêmio Nobel Paul Krugman já sugeriu que Trump seja chamado “Homem do déficit” (Déficit Man) no lugar de “Homem das Taxas (aduaneiras)” (Tariff Man), com que ele já se autointitulou.

Competição estratégica

O que está por trás do crescimento do déficit, segundo o jornal, é a geopolítica. Desde o lançamento da nova estratégia de defesa, em janeiro de 2018, apontando para a “competição estratégica” global com a China e Rússia, que o governo Trump tem aumentado o orçamento para a defesa, financiando esse esforço com o déficit federal, informa o Expresso.

A nova doutrina enunciada pelo então secretário da Defesa Jim Mattis (que saiu do cargo agora em fevereiro por divergência com Trump) considera que o combate ao terrorismo deixou de ser central e que a defesa tem de se centrar na “competição estratégica entre estados”.

“A proposta de orçamento inclui um aumento nos investimentos em defesa necessários para conter a crescente influência chinesa na Ásia Oriental e Pacífico Ocidental. Estes investimentos dirigem-se principalmente a sistemas que permitam a projeção do poder militar norte-americano no Mar do Sul da China a todos os níveis e de uma forma gradual”, comenta Nuno Monteiro, que dirige a área de International Security Studies na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, cita o texto.

“Apesar de ser improvável que esta proposta de orçamento passe no Congresso, cuja Câmara dos Representantes tem, agora, uma maioria do Partido Democrata, é de prever que a versão final que venha a ser aprovada contemplará este tipo de investimentos para a projeção global”, acrescenta o académico português.

Filhos enteados orçamentais

“Tal como o uso das taxas aduaneiras enquanto arma geopolítica, a fórmula orçamental de Trump inspira-se na estratégia de rearmamento de Ronald Reagan nos anos 1980. E o dano colateral será provavelmente similar em termos econômicos: os déficits gêmeos — deficit orçamental federal e déficit externo — dos Estados irão disparar”, recorda, por seu lado, Dan Steinbock, fundador da consultora de geoestratégia Difference Group, relata o jornal.

Apesar da saída de Mattis, o objetivo financeiro de um US$ bilhão para a defesa foi mantido na proposta apresentada. Os enteados da expansão da despesa com a defesa são as outras áreas do orçamento em que Trump pode mexer, e que não têm despesa fixada obrigatoriamente, e que vão cair 9% — nomeadamente, proteção ambiental, desenvolvimento urbano, ajuda internacional, transportes e energia, com cortes acima de 20%, comenta o Expresso.

O grande salto em frente no déficit ocorreu no ano fiscal de 2018, com um aumento de 40% em relação ao ano anterior, que serviu para financiar o “choque fiscal” aprovado no final de 2017, com um corte de impostos na ordem de US$ 1,5 bilhão, e a nova doutrina de hegemonia global, diz o texto.

Dourar a pílula

O jornal também informa que apesar do financiamento para o muro na fronteira com o México ser a rubrica mais mediática em 2020 — com US$ 8,6 bilhões —, os destinos mais importantes do orçamento da defesa vão para uma espécie de saco azul (conhecido pela rubrica de “operações contingentes no exterior”) e para o reforço do poderio aéreo e marítimo, sem esquecer a ciberguerra, o nuclear e o espaço.

Para dourar a pílula, de acordo com o Expresso, a proposta diz que pretende equilibrar as contas públicas daqui a quinze anos. São projeções que suscitam as maiores dúvidas, pois baseiam-se em “pressupostos sem qualquer viabilidade”, diz Steinbock, nomeadamente a projeção de um crescimento econômico anual de 3% de 2020 a 2024, num eventual segundo mandato de Trump, quando todas as projeções apontam para um ritmo de crescimento em torno de 2%.