Juristas dizem que ataques ao STF são ilegítimos e autoritários

Em nota, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) analisa com preocupação a atual situação do país com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sendo atacados via rede social.

Supremo Tribunal Federal

A entidade diz que os atos “não são legítimos nem possuem fundamentos precisos, mas ao oposto, situam-se no campo do autoritarismo e na busca de alternativas não democráticas, o que nos impele a conclamar a sociedade à defesa intransigente da democracia e da instituição Supremo Tribunal Federal”.

Na opinião da Associação, o país começou a trilhar esse caminho após o impeachment da Presidenta eleita Dilma Rousseff e a instrumentalização da operação Lava Jato.

“Essa operação, nascida para ser uma importante investigação de combate à corrupção que assola o Estado brasileiro desde os primórdios, logo cedo mostrou dois grandes problemas que maculariam e comprometeriam em definitivo sua atuação”, diz o texto.

O primeiro deles é que passou a não investigar fatos, mas pessoas previamente escolhidas, vinculadas a determinada posição política. O segundo é que, para conseguir seu intento, os membros da força tarefa se mostraram dispostos a sacrificar todos os direitos de defesa conquistados pela sociedade, bem como a atropelar e descumprir as normas de processo penal.

Confira o texto na íntegra:

A DEFESA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL É A DEFESA DA NOSSA DEMOCRACIA

O sistema instituído no Brasil com a Constituição Federal de 1988 vem sofrendo sistemáticos ataques, culminando com a eleição de dirigentes manifestamente descompromissados com a efetividade da Carta, e de suas garantias fundamentais, que atuam para desestruturar desde a proteção da seguridade social à democratização das avaliações das políticas públicas do Estado, como a participação nos conselhos.

A pavimentação desse caminho passou pelo artifício do impeachment da Presidenta eleita Dilma Rousseff e a instrumentalização da operação Lava Jato. Essa operação, nascida para ser uma importante investigação de combate à corrupção que assola o Estado brasileiro desde os primórdios, logo cedo mostrou dois grandes problemas que maculariam e comprometeriam em definitivo sua atuação.

A primeira é de não se configurar uma ação para investigar fatos, mas pessoas previamente escolhidas, vinculadas a determinada posição política. A segunda é que, para conseguir seu intento, os membros da força tarefa se mostraram dispostos a sacrificar todos os direitos de defesa conquistados pela sociedade, bem como a atropelar e descumprir as normas de processo penal.

Em cinco anos a operação Lava Jato cometeu diversos abusos, desrespeitando normas e perseguindo pessoas, sem nenhuma lealdade à Constituição e às suas garantias e, nessa trilha persecutória, encontrou ressonância inclusive na cúpula do Poder Judiciário.

As raras vozes que se insurgiram internamente não foram bastantes para frear o rompimento com os preceitos constitucionais, flagrantes e diuturnamente denunciados por atores políticos e jurídicos, de pessoas e instituições, entidades da sociedade civil organizada, entre as quais nos incluímos.

No desenrolar da história recente do país, é fato que o Supremo Tribunal Federal consolidou procedimentos que o distanciaram da guarda da Constituição Federal, sua missão precípua, com especial destaque à inobservância da presunção de inocência.

Nada obstante, no momento atual em que a Corte esboça reagir e apurar ilegalidades cometidas no âmbito da operação Lava Jato e que, segundo já foi divulgado, pode envolver graves desvios de conduta de agentes públicos, ministros daquela Casa passam a ser atacados, com uso dos instrumentos mais evidentes nos novos tempos: as ameaças via redes sociais.

Nesse ambiente de conturbação e novos ataques à ordem democrática, de bom alvitre assentar que a ABJD não coaduna com censura à imprensa, qualquer que seja ela. Desse modo, repudia a decisão do ministro Alexandre de Moraes contra a revista Crusoé e o blog O Antagonista na mesma medida da absurda condução coercitiva do blogueiro Eduardo Guimarães determinada então pelo juiz Sérgio Moro em 2107 e, em caso mais recente, a negação da entrevista do ex-presidente Lula em 2018. No Estado democrático de direito não há, nem pode haver, escolha de quem é detentor dos direitos fundamentais. Esse é o caminho do Estado de exceção.

Nessa linha, o momento político exige de nós a capacidade de enxergar para além do ataque a juízes da Suprema Corte, situando-o na continuidade da desestruturação que já ocorre no âmbito do próprio Poder Executivo. De fato, o episódio da censura – que já fora revisto – está apenas servindo de mote para justificar a pressão para que o Supremo Tribunal Federal deixe de investigar os possíveis crimes cometidos por agentes públicos no âmbito do inquérito em andamento.

Nesse ambiente, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia identifica que os ataques aos membros da Suprema Corte proferidos nos últimos dias não são legítimos nem possuem fundamentos precisos, mas ao oposto, situam-se no campo do autoritarismo e na busca de alternativas não democráticas, o que nos impele a conclamar a sociedade à defesa intransigente da democracia e da instituição Supremo Tribunal Federal.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE JURISTAS PELA DEMOCRACIA (ABJD)