Luciano Siqueira: “Padre Henrique é um mártir da luta pela liberdade”
Padre Antônio Henrique Pereira Neto era o braço direito do então arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara, além de professor e coordenador da Pastoral da Juventude da arquidiocese. Tinha 29 anos quando foi visto pela última vez com vida no dia 26 de maio de 1969, no Largo do Parnamirim, Zona Norte do Recife. O corpo foi encontrado, no dia seguinte, em um terreno baldio na Cidade Universitária, na Zona Oeste, com marcas de balas e facadas e uma corda no pescoço.
Publicado 28/05/2019 14:41 | Editado 04/03/2020 16:55
Seu assassinato foi uma represália direta ao arcebispo que era um dos grandes líderes brasileiros da resistência ao golpe militar. “Num tempo de ameaças à liberdade e à democracia e em que se pretende apagar a história de luta do nosso povo, a homenagem ao padre Henrique nos 50 anos do seu assassinato pela ditadura militar é um gesto de resistência. Quem viveu a dureza daquele tempo tem muito que dizer. Padre Henrique é um mártir da luta pela liberdade”, destacou o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, preso e torturado pela ditadura militar.
O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, e sua mulher, Luci Siqueira, (à direita) na Catedral da Sé, em Olinda. Ao fundo, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara
Os 50 anos do assassinato de padre Henrique foi lembrado em pelo menos dois eventos especiais, no Recife, ontem. O primeiro, pela manhã, reuniu em uma bela homenagem o governador de Pernambuco, Paulo Câmara; ex-presos políticos, como Luciano e sua mulher, Luci Siqueira; familiares do sacerdote; autoridades eclesiásticas; secretários de Estado e democratas em geral, na Catedral da Sé, em Olinda, onde os restos mortais do padre estão sepultados.
Tempos sombrios
Na ocasião, o governador Paulo Câmara comentou sobre o cerceamento das liberdades e as violações dos direitos humanos protagonizados no período da ditadura militar. "A gente trabalha todo dia para que neste país não volte a acontecer o que vimos acontecer há 50 anos, 55 anos, durante o período em que o Brasil ficou em repressão, com arbítrio contra a liberdade, a justiça e os direitos das pessoas de ir e vir", disse.
"Aquele tempo sombrio não pode voltar e a gente não pode deixar que ele volte. Tivemos a capacidade de ter uma Comissão da Verdade em Pernambuco que conseguiu recompor muita coisa que precisava ser dita, seja com Dom Helder, com Padre Henrique. Depois de muitos anos a gente sabe a verdade, não apenas para quem viveu aquele período, que já sabia o que tinha acontecido, mas principalmente às novas gerações que têm a verdade muito bem documentada e historiada", afirmou Paulo.
"Eu acho importante essa preservação da memória. Quem não viveu aquele momento não tem ideia do que aconteceu. Uma coisa é a gente ler, outra coisa é vivenciar. Foi um momento muito duro. Foi um recado para a igreja em termos de opressão", disse a irmã do padre Henrique, Terezinha Silva.
Tributo
À tarde, outra homenagem aconteceu na Escola Municipal Padre Antônio Henrique, no Derby, onde foi realizada uma cerimônia em memória ao padre Antônio Henrique. O prefeito Geraldo Julio (PSB) e o vice-prefeito Luciano Siqueira (PCdoB) participaram das atividades e acompanharam as apresentações dos alunos em tributo ao padre. “Os que governam hoje o Brasil querem apagar a História e sufocar o sonho que ele (Padre Henrique) semeou”, destacou Luciano em sua fala durante o evento.
Luciano Siqueira ao microfone na Escola Padre Henrique, da rede municipal de ensino
"Esta é uma bela homenagem ao padre Henrique. Estamos na Escola Municipal Padre Antônio Henrique, que marca muito a nossa rede municipal e essa homenagem vem em um tempo em que o Brasil vê a sua democracia ameaçada, então temos aqui a homenagem a quem lutou por toda a sua vida, entregou a sua vida em nome da liberdade e da democracia", enfatizou o prefeito.
Estudantes 7º ano apresentaram o jogral “Padre Henrique em Versos”. Já alunos do 9º ano encerram o evento com uma apresentação musical.
Comissão da Verdade
No dia 27 de maio de 2014, a Comissão da Verdade em Pernambuco divulgou informações sobre a conclusão do inquérito que investigou a morte de padre Henrique. De acordo com o colegiado, que apurou crimes ligados à ditadura militar, foi um homicídio político. O caso do padre Henrique foi o primeiro concluído pela comissão no estado, de um total de 51.
Os detalhes foram apresentados no relatório do Volume 2 do Caderno da Memória e Verdade da comissão, em cerimônia realizada na Capela São José dos Manguinhos, na Zona Norte do Recife. Ainda de acordo com a comissão, o inquérito do caso do assassinato de Padre Henrique foi arquivado e reaberto várias vezes, desde 1969, mas nunca foi concluído. As investigações reiniciadas pelo colegiado apontam a participação de membros da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco.
Do Recife, Audicéa Rodrigues com informações da imprensa local.