Chile exige o fim da previdência privatizada e do “assalto às pensões”

Cresce o repúdio à capitalização: "Não às Administradoras de Fundos de Pensões – AFP" . (Foto: Xinhua)

Por Hora do Povo 

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Enfrentando as baixas temperaturas e a chuva, os chilenos voltaram às ruas nas principais cidades, nesta quinta-feira, para entoar: “Basta, nos cansamos!” e condenar a política neoliberal do presidente Sebastián Piñera, em especial o assalto à Previdência pelas Administradoras de Fundos de Pensões (AFP). Na capital, Santiago, no final da tarde, a polícia respondeu com truculência e gás lacrimogêneo, na tentativa de dispersar os manifestantes.

Além da capitalização que força os aposentados a uma “poupança forçada”, os valores pagos são 80% inferiores ao salário mínimo, 44% abaixo da linha da pobreza, com os homens recebendo cerca de 30% do último salário e as mulheres tão somente 25%. O “modelo” de privatização apontado como referência pelo ministro Paulo Guedes vem forçando cada vez mais idosos a, literalmente, morrer de tanto trabalhar. A situação é tão grave que meios de comunicação financiados pelas próprias AFP têm sido obrigados a noticiarem casos.

Se somando ao movimento Não + AFP, organizações sociais, sindicais e estudantis se anteciparam à prestação de contas públicas para o Congresso Nacional, que Piñera realizará aos parlamentares neste sábado, há pouco mais de um ano na Presidência. Neste segundo mandato, seu ponto mais baixo de popularidade.

A manutenção piorada do projeto de “reforma” do sistema de aposentadoria do ditador Augusto Pinochet (1973-1990) aumenta ainda mais a tensão, pois quer passar a cobrar a contribuição previdenciária também dos empregadores – atualmente é paga apenas pelo trabalhador – mas mantendo intacta completamente a criminosa estrutura privatizada, garantindo lucros exorbitantes às Administradoras de Fundos de Pensão. Vale destacar, recordou Luis Mesina, porta-voz da Coordenadora No + AFP, que somente nos três primeiros meses deste ano, as AFP lucraram US$ 196 milhões, um aumento de 100,1% (cem vírgula um por cento!) em relação ao mesmo período de 2018, com ganhos diários de US$ 2,17 milhões. “As três principais AFP são norte-americanas. Qual é a dona da maior companhia seguradora do Chile? A MetLife, a maior companhia seguradora do planeta. Tomam nossa economia, levam para os Estados Unidos, compram ações da Bolsa e tratam de buscar rentabilidade, que está cada vez mais baixa”, denunciou. O fato, ressaltou, “é que os grandes grupos econômicos – fundamentalmente estrangeiros – usam nossa poupança, nossa humanidade e nossas vidas para financiarem seus projetos espúrios”

O presidente do Colégio de Professores do Chile, Mario Aguilar, destacou que a categoria se sente parte das demandas dos aposentados, pois “é inaceitável que as AFP joguem os idosos na miséria, sem condições mínimas de vida”.

Para a dirigente da plataforma Chile Melhor sem Tratado de Livre Comércio (TLC), Lucía Sepúlveda, as manifestações ganham ainda mais relevância em um momento em que se debate no Senado “o abusivo Tratado Integral e ‘Progressista’ Transpacífico (TPP11)”. Segundo Sepúlveda, “este TLC vai impactar de forma extremamente negativa a muitas gerações de chilenos, violando seu direito à saúde, a uma alimentação saudável e a própria soberania do país”.

A secretária-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Bárbara Figueroa, apresentou na sede do Ministério do Trabalho uma carta exigindo o cumprimento dos compromissos no marco das negociações coletivas realizadas entre empresas e sindicatos. Figueroa reiterou o respaldo da entidade aos trabalhadores de várias categorias em greve e alertou a quem tenta criminalizar os protestos, uma vez que as paralisações se multiplicam quando não há outra alternativa diante da falta de respostas às suas demandas.