Federer, Nadal e Djokovic: quem é o maior gigante do tênis? 

Ao bater o suíço Roger Federer na mais longa final de Wimbledon, no último domingo (14), o sérvio Novak Djokovic, número um do ranking mundial, fez mais do que impedir o 21º título do rival em torneios do Grand Slam. Ele deu mais uma razão para figurar entre os três gigantes do tênis atual.

Por Thales de Menezes

Tênis

Na percepção da maioria dos entusiastas do esporte, Federer e o espanhol Rafael Nadal parecem ser de outro planeta. Tenistas fantásticos que já protagonizaram batalhas inesquecíveis nas quadras. Djokovic é frequentemente relegado a um degrau abaixo da dupla. Bem pouco abaixo, talvez, mas essa opinião está sendo demolida sistematicamente pelos números.

Djokovic e Nadal são da mesma geração. O sérvio tem 32 anos. O espanhol, 33. Federer veio antes, está com 37. E, quando o assunto é competição esportiva de altíssimo nível, cinco anos é um bocado de tempo.

Nos confrontos diretos, em qualquer torneio, Djokovic já superou os dois rivais em números de vitórias. Marca 28-26 contra o espanhol e 26-22 diante do suíço. No caso de Federer, sua superioridade com vitórias recentes poderia ser creditada à diferença de idade, mas quem viu o suíço exibir um tênis primoroso durante quase cinco horas seguidas na grama de Wimbledon não vai levar isso em conta.

Mais jovem dos três, Djokovic entrou depois na rotina das vitórias. Quando Nadal ganhou o primeiro título de Grand Slam, no Roland Garros de 2005, Federer já tinha quatro títulos desse nível, em três torneios diferentes. Djokovic só venceu o primeiro Grand Slam na Austrália, em 2008, quando Nadal já tinha três títulos em Paris, e Federer exibia 13 conquistas.

Hoje, Federer tem 20 títulos (um recorde), Nadal ostenta 18, e Djokovic tem 16. Mas o foco em anos recentes vai constatar um domínio amplo do sérvio no Grand Slam. Nos últimos dez anos, ele venceu 15, Nadal conquistou 13 e Federer ganhou seis vezes. Concentrando o levantamento nos últimos cinco anos, o sérvio dá um baile: tem dez títulos, contra cinco de Nadal e apenas três de Federer.

Tecnicamente falando, são tenistas com exuberância em todos os golpes. Exibem força mental, leitura de jogo, mudanças de estratégia nas partidas e controle emocional. Federer tem precisão, Nadal tem força, mas Djokovic tem a vantagem que começa a fazer mais diferença enquanto o trio fica mais velho: a velocidade.

O detalhamento tecnológico cada vez mais absurdo do esporte passou a medir a velocidade dos deslocamentos dos jogadores na quadra. E o sérvio é o mais rápido na maioria dos torneios pesquisados, chegando a mais de 36 km/h.

Estatísticas postas de lado, é visível que Djokovic, há tempos, está chegando na bola mais inteiro do que Federer ou Nadal. Sua dificuldade persiste em bater Nadal no saibro. No piso lento, que sabota essa velocidade do sérvio, o espanhol lidera o número de vitórias/derrotas, marcando 17 contra 7. Nos outros pisos, Djokovic se impõe.

Então, por que Federer e Nadal teriam uma aura maior do que ele no panteão do tênis?

A maior razão é a rivalidade entre os dois primeiros. Entre Roland Garros 2005 e o US Open 2007, Federer e Nadal protagonizaram 11 finais seguidas de Grand Slam. Entre 2005 e 2010, os dois venceram 21 em 23 torneios dessa envergadura.

Um detalhe importante: Federer e Nadal estabeleceram períodos de domínio campeonatos mais importantes do planeta. O suíço conquistou um pentacampeonato em Wimbledon (2003-2007) e outro penta no US Open (2004-2008). O espanhol é o rei de Roland Garros com 12 títulos nos últimos 15 anos, com um tetra (2005-2008), um penta (2010-2014) e um tricampeonato (2017-2019).

Essas conquistas seguidas repercutem mais. Federer e Nadal já estavam consolidados como super-heróis de raquetes quando Djokovic teve seu melhor momento na carreira, no biênio 2015-2016. Depois de vencer o Aberto da Austrália em janeiro de 2015, ele chegou às finais de mais 13 torneios, ganhando dez títulos. Entre as duas temporadas, ele se tornou o único do trio a vencer os quatro torneios do Grand Slam em sequência, de Wimbledon 2015 a Roland Garros 2016.


 

Mas após essa série de conquistas, Djokovic teve um período longo de problemas, com contusões sérias e atribulações na vida pessoal e profissional, com trocas de treinador. Se conseguisse entrar em 2017 no mesmo ritmo, teria ainda mais destaque hoje. Naquele ano, Federer ganhou na Austrália e em Wimbledon. Nadal venceu Roland Garros e US Open. Mas agora ele não quer dar mais chance aos rivais.

Dos últimos seis torneios de Grand Slam, venceu cinco. Os problemas físicos deram uma trégua. O bom humor voltou, e está controlando seu lado cômico, pelo menos em público. Suas imitações de outros tenistas, célebres na internet durante anos, estão em segundo plano. O foco está no desempenho na quadra.

E Djokovic segue a disparar declarações de humildade. Afirmou inúmeras vezes que considera Federer o melhor de todos os tempos e que se espelha no suíço para ter longevidade na carreira, chegando a pedir conselhos para gerenciar seu calendário de torneios.

Sobre Nadal, diz que venderia a alma para ter a superioridade que o espanhol exibe no saibro. “O Nadal tem um comprometimento para treinar dia após dia e o seu espírito de nunca se entregar é também muito importante”, disse Djoko. Ele já confessou também ter uma “inveja saudável” da medalha de ouro de Nadal na Olimpíada de Pequim, em 2008, na qual Djokovic ganhou bronze.

Se os números do sérvio continuarem a subir na mesma curva dos últimos meses, essas declarações vão soar cada vez mais como simples gentilezas a seus colegas no topo do tênis. Djokovic não ficará devendo nada a eles.