Future-se é um ataque à educação superior pública, diz reitor

 Para Henry Campos, reitor da Universidade Federal do Ceará, o projeto do governo Bolsonaro que abre para investimento de capital privado nas universidades e institutos federais deveria se chamar "vire-se" ou "privatize-se"

Henry Campos - Foto: Marcela Tosi/O Povo

O reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Henry Campos, afirmou que o programa Future-se é o maior ataque contra a educação superior desde 1889, quando a República foi instituída no Brasil. O projeto foi apresentado na quarta-feira (17), pelo Ministério da Educação (MEC) voltado para as universidades e institutos federais do País.

O período citado pelo reitor refere-se à época da instituição da República Velha, entre 1889 e 1930, no país. No ano anterior, em 1888 houve a abolição da escravidão. A partir daquele período, houve descentralização das responsabilidades do Estado sobre as Instituições de Ensino Superior. A época também é marcada pela criação de faculdades em todo o país, principalmente de escolas de educação privada.

Henry Campos destacou ainda que o propósito do Future-se é completamente ideológico e não trata de questões emergenciais, como o contingenciamento de 30% dos gastos discricionários anunciado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub.

“O projeto muda a própria finalidade da universidade. Há desvirtuamento para o mercado. Nós trabalhamos com isso, mas o papel não é esse”. Segundo Henry, o projeto tira a autonomia da instituição em garantir a própria gestão, sem gerência externa. Para ele, o projeto apresentado pelo ministro da educação deveria se chamar “vire-se” ou "privatize-se".

“Não somos contra (parcerias com empresas). Mas não pode ser uma coisa impositiva, nem a única maneira de financiar a universidade. Quando você faz esse tipo de direcionamento, você subordina toda a produção de ciência e tecnologia, todos os projetos de pesquisa e inovação, aos interesses privados, em detrimento do interesse público”, analisou.

Entre as estratégias do Future-se está a criação de um fundo de natureza privada, cujas cotas serão negociadas na Bolsa de Valores, para financiar as instituições federais. Esse fundo contará, inicialmente, com R$ 102,6 bilhões. A intenção é que esses recursos financiem pesquisa, inovação, empreendedorismo e internacionalização das instituições de ensino.

Fonte: O Povo