FMI, 75 anos: Como mudou o papel do fundo na América Latina 

Há exatos 75 anos, no dia 22 de julho de 1944, uma conferência monetária e financeira da ONU deliberou a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse período, mudou o papel do órgão na América Latina, conforme explica o economista espanhol Santiago Niño Becerra em entrevista à Sputnik Mundo.

Argentina

Na opinião do professor de estrutura econômica da Universidade Ramon Llull (Espanha), a atuação do FMI no continente tem um marco. a crise da dívida dos anos 80 na América Latina e em outros países. Desde então, o papel do Fundo não tem mais nada a ver com o que lhe foi originalmente atribuído em 1944.

Antes, cabia-lhe garantir a estabilidade de um sistema monetário internacional baseado no dólar em uma atmosfera de Guerra Fria. “Hoje, o FMI é, por um lado, um emprestador que canaliza recursos financeiros e, por outro, um serviço de pesquisa que estima as tendências prováveis da economia mundial”, afirma Niño Becerra.

O especialista explica que a organização internacional desempenhou um papel importante na economia argentina – o país assinou um novo contrato com a entidade em 2018. “Com a Argentina, o FMI voltou um pouco ao papel dos anos 80, porque será o FMI que terá de desempenhar o papel de polícia quando os problemas de pagamento da dívida começarem na Argentina”, diz.

Niño Becerra também recordou que Cuba foi um dos membros fundadores do FMI em 1944 – mas os acontecimentos de 1961 tornaram impossível para Cuba permanecer “em uma organização projetada para atender aos interesses do dólar”. Para o especialista, foi esse o motivo que “determinou a posição do FMI na América Latina nas três décadas seguintes”.

“Até os anos 2000, a relação da América Latina com o FMI nada mais foi que a institucionalização em uma organização internacional dos interesses norte-americanos”, ressaltou. Há também casos na história em que os governos decidem seguir o seu próprio caminho e rejeitam a ajuda do FMI, como foi o caso da Malásia, que renunciou à assistência da organização no período mais difícil da crise de 1997 a 1998 e que agora tem uma economia em constante crescimento.

“Penso que o problema não está tanto em recusar ou não a ajuda do FMI, mas na dependência que faz com que um país tenha de se aproximar de uma economia muito grande ou de um organismo internacional para ‘ser ajudado’. Em outras palavras, se um país carece de autonomia econômica e se torna dependente de ‘alguém’, acabará inevitavelmente caindo na estagnação”, conclui.

Com infomrações do Sputinik