Os investimentos no Brasil entre a China e os EUA

Um estudo recém-publicado de autoria de Sebastian Horn, Carmen Reinhart e Cristoph Trebesch — China’s overseas lending , National Bureau of Economic Research — fez, pela primeira vez, um mapeamento exaustivo dos empréstimos chineses para o resto do mundo. 

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Segundo o colunista da revista Época Felippe Silva Ramos, ao contrário dos conhecidos dados sobre comércio, os fluxos de investimentos chineses são “escondidos”, na expressão dos autores. Isto é, não são reportados ou sistematizados por organismos ou arranjos multilaterais.

Sabe-se, contudo, que a China é, desde 2011, a principal fonte de financiamento dos países emergentes, diz o colunista. Sozinha, a China empresta mais do que o Banco Mundial. Entre as principais conclusões, os autores relatam que os empréstimos chineses são, em regra, oficiais e que, portanto, a decisão de emprestar não segue o mesmo padrão dos investimentos privados. Os modelos são desenhados caso a caso, de acordo com o país e o projeto beneficiados.

A falta de transparência, a vulnerabilidade institucional de países tomadores e as exigências de garantias em commodities levaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) a tecer críticas sobre o risco da armadilha da dívida, comenta Felippe Silva Ramos. Segundo ele, a Venezuela é exemplo negativo desse caso. No entanto, a China, em meio aos ajustes estruturais de sua economia, tem buscado uma transição desse modelo “commodities-por-empréstimo”, que implica alto risco de calote, para um modelo mais orientado por critérios de mercado, baseado na sustentabilidade financeira dos projetos. Países da região, como Chile e Peru, já estão se beneficiando dessa mudança.

Por outro lado, prossegue Felippe Silva Ramos, o risco de guerra comercial entre as duas maiores economias do globo tem levado a China a reduzir seus investimentos nos Estados Unidos. De US$ 46 bilhões em 2016, o volume caiu para apenas US$ 5,6 bilhões em 2018, segundo dados publicados pelo jornal The New York Times. O descolamento da economia dessas duas potências implica que a China terá de buscar novos mercados para seus investimentos de menor risco.

A China planeja investir até US$ 900 bilhões em projetos de infraestrutura em diversos países sob o guarda-chuva do One Belt One Road, diz ele, após eleogiar as medidas ultraliberais da equipe econômica do governo Bolsonaro.

De 2003 a 2017, a China investiu US$ 53 bilhões no Brasil. A média é de menos de US$ 4 bilhões por ano. O número é uma fração mínima do US$ 1,6 trilhão do capital que os chineses disponibilizam por ano para o mundo. Temos condições de atrair muito mais. Energia, mineração e transporte interessam muito aos chineses, mas setores de fronteira, como pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, também podem se beneficiar. A China precisa de parceiros para seu ambicioso projeto de tecnologia 5G e a Huawei já demonstrou interesse em aumentar suas operações no Brasil.

De acordo com Felippe Silva Ramos, uma postura pragmática com a China não ameaça a aproximação estratégica que o governo busca com os Estados Unidos, contrariando a lógica de submissão do governo brasileiro aos ditames da Casa Branca.