Parlamentares afirmam que Temer deu “tapa na cara do povo' ao assumir golpe

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (16), o ex-presidente Michel Temer admitiu que o impeachment de Dilma Rousseff foi, na verdade, um golpe. “Primeiro, Janaína Pascoal. Agora, Temer. Os traidores não têm mais vergonha de nada. Temer ter reconhecido o impeachment como golpe é um tapa na cara do povo brasileiro”, tuitou nesta terça-feira (17) a líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Por Christiane Peres, do PCdoB na Câmara com agências

Temer capa - Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

A parlamentar fez referência a uma postagem no Twitter do dia 12 de setembro de Janaína Pascoal, onde a advogada e hoje deputada estadual pelo PSL afirmou que Dilma não cometeu crime de responsabilidade e que as “pedaladas fiscais”, usadas como base para justificar o afastamento da presidente foram uma farsa. “Alguém acha que Dilma caiu por um problema contábil?”, escreveu Janaína, uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma.

O post foi imediatamente respondido por centenas de leitores, entre eles o jornalista Fábio Pannunzio, que recentemente desligou-se da rede Bandeirantes e, em entrevista ao portal Brasil247, se disse arrependido de ter participado da armação midiática para derrubar a presidente democraticamente eleita. “Janaína dizer isto é o mesmo que Busch admitir que mentiu sobre armas químicas para justificar a guerra ao Iraque. Ela é a patronesse do impeachment. Assim, somos obrigados a reconhecer que Dilma foi, sim, vítima de uma armação para derrubá-la. De um golpe clássico. A farsa acabou.”

“Ele confirma ao negar, cinicamente, que tenha participado da tramoia política”, afirma o vice-líder comunista, deputado Márcio Jerry (MA).

Entrevista de Temer

“Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe”, disse o emedebista, que assumiu a presidência após a queda de Dilma em 2016. Temer não se preocupou em usar o termo “golpe”, algo que nunca tinha feito, e ainda revelou que tentou impedir o avanço do processo do impeachment após um telefonema do ex-presidente Lula, conforme revelado em uma das reportagens do site The Intercept Brasil em parceria com o jornal Folha de S.Paulo.

A reportagem, publicada na última semana, desmontava a tese do então juiz Sergio Moro e dos procuradores da Lava Jato de que Lula teria aceitado o cargo de ministro da Casa Civil durante o governo Dilma para se blindar das acusações da Operação.

As mensagens privadas trocadas entre os procuradores mostram que Moro divulgou apenas parte dos áudios interceptados pela Polícia Federal a partir de um grampo no ex-presidente petista. À época, Moro autorizou a divulgação de uma conversa entre Lula e Dilma, que citava um "termo de posse" para ser utilizado em "caso de necessidade". O então magistrado, no entanto, não poderia tê-lo feito porque o caso envolvia a presidente da República, e a competência seria exclusivamente do Supremo Tribunal Federal (STF).

A reportagem mostra que Lula ligou para Temer para tentar convencê-lo a ajudar a barrar o processo de impeachment, levando em consideração também a influência do PMDB no Congresso. No Roda Viva, Temer reforçou que a movimentação de Lula estava atrelada ao impedimento de Dilma.

“Depois ele [Lula] esteve comigo, no pavilhão das autoridades, conversando comigo sobre o impedimento. O fundamento básico dele foi tentar trazer o PMDB e outros partidos no sentido de negar a possibilidade de impedimento”, disse Temer.