O “paraíso” pode virar inferno

"Enquanto o país permanece estagnado e o povo brasileiro empobrece e amarga o desemprego, os bancos e os rentistas faturam bilhões. Insaciáveis elogiam e querem mais reformas, evidente que não aquelas que iriam beneficiar o povo, mas propiciar ainda maior saque de nossas riquezas".

Por Aluísio Arruda*

Chile

Os defensores do estado mínimo, do liberalismo, das privatizações, sempre apontavam o Chile como o modelo perfeito a ser seguido na América Latina.

A ditadura Pinochet que assassinou Salvador Allende, tomou o poder, prendeu, torturou e matou milhares de opositores, a ferro e fogo seguiu à risca o receituário neoliberal dos Chicago Boys, sob o comando dos norte-americanos. Praticamente todas as empresas públicas, universidades, a previdência social, o sistema de saúde, e outros, foram privatizados.

Prometeram o paraíso, menos de 40 anos depois os chilenos vivem o inferno. A maioria dos aposentados recebe metade de um salário mínimo, por isso o Chile tem hoje uma das maiores taxas de suicídio de idosos no mundo. O poder de compra dos trabalhadores desabou, o índice de desemprego é enorme, os jovens que entram para uma universidade não conseguem pagar as mensalidades e se revoltam diante da pobreza dos pais e avós.

Há 15 dias, quando o atual presidente Sebastian Piñera aumentou os preços das passagens do metrô e de outros serviços públicos a revolta explodiu. Já são 19 mortos, milhares de feridos e presos pelo exército, que usa a mesma violência da época Pinochet, agora tentando salvar Piñera que, desesperado, pede desculpas ao povo pela miséria provocada por ele e seus antecessores, além de prometer revogar os aumentos.

Mas os protestos continuam ainda mais fortes. Um comitê dos partidos de esquerda e de movimentos sociais responde que quer mudanças gerais agora.

Mas não é só no Chile que a política neoliberal levou o povo á miséria. Aqui na América Latina, assistimos as mesmas revoltas no Equador, na Argentina, na Colômbia e em outros continentes, na Grécia, na Espanha, no México. Todos foram parar no FMI, só escaparam os que conseguiram se livrar dos partidos de direita e ultra-direita que rezam pela cartilha neoliberal.

No Brasil, o governo Temer e agora Bolsonaro,com muito mais intensidade, aplica a mesma cartilha neoliberal, com cortes de gastos nas áreas sociais por 20 anos, detona os direitos dos trabalhadores com as reformas trabalhista e previdenciária. Cegos aos desastres que ocorrem nos países vizinhos, continuam as privatizações em massa, permitem a quebradeira de grandes empresas nacionais, vendem a preços de bananas os principais poços petrolíferos do pré-sal e nossas empresas estratégicas das áreas petrolíferas, da eletricidade, da aviação, etc.

Enquanto o país permanece estagnado e o povo brasileiro empobrece e amarga o desemprego, os bancos e os rentistas faturam bilhões. Insaciáveis elogiam e querem mais reformas, evidente que não aquelas que iriam beneficiar o povo, mas propiciar ainda maior saque de nossas riquezas.

Insensível como o governo golpista de Temer, o atual, que venceu enganando os eleitores através das fake news, de caixa 2 e candidaturas laranjas, finge não perceber qual será o resultado da sua política neoliberal sob a batuta de Paulo Guedes. Porém, assim como chegou a conta no Equador, na Argentina e no Chile, para citar apenas países da América Latina, com certeza no Brasil está muito próximo de uma gota d´agua provocar um incontrolável furacão.