Bolivianos apoiam Evo Morales e rechaçam opositor fascista
O presidente do chamado Comitê-pró Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, não conseguiu sequer desembarcar no aeroporto de El Alto na segunda-feira, devido ao gigantesco rechaço popular. Cercado por manifestantes em apoio ao presidente Evo Morales, o projeto de golpista precisou esconder bem a pretensa “carta-ultimato” e dar meia volta, protegido por forte aparato policial mobilizado pelo próprio governo.
Por Leonardo Wexell Severo
Publicado 05/11/2019 20:21
“Nos comprometemos a resguardar a integridade física das pessoas que chegam de Santa Cruz e temos cumprido. Em um voo charter, o senhor Camacho chegará lá são e salvo”, explicou o ministro de Governo, Carlos Romero. Conforme Romero, caso o golpista saísse do aeroporto, a situação “iria ficar muito mais difícil e complexa”, já que ele chegou dentro de “um contexto de reações sociais, sobretudo por ter espancado e humilhado a algumas pessoas” recentemente.
As eleições do dia 20 de outubro deram a vitória a Evo Morales, do Movimento Ao Socialismo (MAS), por 47.08% dos votos contra 36,51% de Mesa – mais de 10% – o que garante a sua continuidade sem segundo turno. Diante das alegações de “fraude” e ameaças de confrontação, Evo concordou em proceder a uma recontagem auditada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), que também concordou com a pacificação.
Na avaliação do presidente, a chamada “carta de renúncia” que Camacho tinha a risível intenção de entregar no edifício presidencial poderia ser comparada a que García Meza, em 17 de julho de 1980, queria entregar à ex-presidenta Lidia Gueiler Tejada antes de derrotá-la. Naquela oportunidade, recordou, Gueiler foi derrotada e exilada por García Meza, em um sangrento golpe de Estado.
“Nos acusam de autoritários ou de ditadura, Nos últimos 20 anos de neoliberalismo, MNR, MIR e ADN governaram, se revezaram nesta democracia pactuada. Se revezavam e desde 2002, os três governaram juntos. Agora tentam se juntar por lá e por aqui para recuperar o poder e para isso usam a desculpa da fraude”, assinalou Evo. E reiterou: “Rechaçamos o golpe de Estado dos racistas que tentam recuperar o poder” sem votos.
Resistência popular
Diante das crescentes ameaças, Evo voltou a convocar o povo boliviano à “resistência em defesa do processo de mudanças”. “Vamos resistir, estou seguro que o povo está organizado e me surpreenderia se fosse diferente. Como iríamos nos render? Somos um povo, somos uma força, vamos defender nosso processo, como fizemos frente às ditaduras militares”, declarou o presidente reeleito.
De acordo com o mandatário, a mobilização dos grupos de extrema-direita não diz respeito a uma suposta fraude, pois desde antes já falavam de sua saída do governo, o que significa que “é um tema de golpe de Estado” que vai muito além de “não a Evo, senão ao povo”.
Há duas semanas a população está mobilizada para que se respeite o resultado eleitoral, atacado por setores oposicionistas que chegaram até mesmo a queimar urnas que consideravam desfavoráveis. As covardes agressões causaram duas mortes em Montero, deixaram cerca de duas centenas de feridos, entre eles pessoas que perderam um olho e três dedos, além de mais de 50 detidos nas cidades de La Paz, Cochabamba e Santa Cruz.
Estas ações criminosas buscam multiplicar as mortes para jogar a culpa no governo, denunciou Evo, desmascarando esta “outra operação” dos entreguistas. “Estamos enfrentando os privatizadores com os privatizadores, os discriminadores, os que provocam a incitação ao ódio e ao racismo com os conciliadores”, acrescentou.
Diante desta tentativa de golpe, o presidente pediu uma “reunião de emergência com nossos dirigentes sindicais, nacionais, com a Confederação Operária Boliviana (COB) e a Conalcam (Coordenadora Nacional de Mudanças) para conhecer o que estão pensando e planejar. Eu dependo do povo, das forças sociais”, destacou. “Os grandes patriotas, o verdadeiro patriota, é o que faz pátria, o que faz respeitar seus recursos naturais e não os que privatizaram antes”, frisou.
Central sindical respalda Evo
O secretário nacional de Organização da COB, Nicanor Baltazar, assegurou que “as bases estão organizadas e mobilizadas para defender o processo de mudanças, políticas, econômicas e sociais, respaldando o presidente contra a oligarquia golpista”. “Evo venceu e alcançou a maioria porque agora faz um governo para todos, que não chega apenas à área urbana, mas também rural, atendendo os camponeses, os indígenas”, assinalou.
Nicanor acredita “na vitória da mobilização popular, pois aqui não virão mais para nos dizer o que temos de fazer, não virão mais impor privatização ou capitalização, não virão mais para tentar levar nosso patrimônio público, para desnacionalizar tudo a preço de banana como faziam”.
“Agora temos um Estado Plurinacional e nos reunimos com o nosso presidente, o que antes era extremamente difícil. Anteriormente, para termos um encontro era à base de muita pressão e mobilização, enfrentando a repressão e até Estados de Sítio contra a classe trabalhadora”, relatou.
Para as novas gerações, recordou o dirigente da COB, “é preciso esclarecer que em todos esses anos da República de Bolívia, em seus quase 200 anos, temos sido conduzidos no governo por uma elite que, como classe dominante, nunca deu ao povo o poder de decidir sequer sobre seus recursos naturais. Esta compreensão foi se fortalecendo e se formando desde o ano de 1952 e avançado em 2003 com a expulsão de Gonzalo Sánchez de Losada, um sanguinário que matou cerca de 70 pessoas e feriu mais de 400, que fugiu para os Estados Unidos, enriquecido com o assalto ao nosso Banco Central”.
São esses, patrocinados por interesses norte-americanos, os que agora querem retornar ao poder, condenou Nicanor, com o apoio da extrema direita e de “setores da grande mídia, de cuja oligarquia é a dona, a proprietária”. “Evo conta somente com uma pequena estrutura estatal e alguns poucos meios populares. A COB tem sua rádio, mas não está em rede e limitada a algumas comunidades. A forma acirrada com que está colocada a disputa, com uma visão completamente manipulada em favor da elite, está nos ensinando a necessidade de termos veículos de comunicação em rede, para garantir a democracia e não a imposição da voz – e dos interesses de uma pequena minoria – sobre os demais”, concluiu.