Extrativistas protestam e homenageiam Chico Mendes em Brasília

Cerca de 300 lideranças extrativista da Amazônia realizaram na noite desta quarta-feira (6), em Brasília, um ato em defesa da manutenção da floresta e contra as agressões ao meio ambiente.

Por Iram Alfaia

Porangaço - ISA

O protesto foi batizado com o nome de “Porangaço”. Os manifestantes se concentraram em frente à Catedral de Brasília, na Esplanada dos Ministério, e caminharam portando em suas cabeças porangas (lamparinas), usadas por seringueiros para percorrer e proteger a floresta.

Eles caminharam até a Praça dos Três Poderes onde no Panteão da Pátria depositaram uma coroa de flores em homenagem a Chico Mendes, líder seringueiro que tem seu nome gravado no “Livro dos Heróis da Pátria“.

Os manifestantes estão participando do IV Congresso Nacional do Conselho Nacional das Populações Extrativistas e Comunidades Tradicionais Da Amazônia (CNS), entidade criada, em 1985, em decorrência da luta liderada por Chico Mendes.

Eleito presidente da CNS, Júlio Barbosa Aquino (foto abaixo), 65 anos, que na condição de vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, assumiu a presidência da entidade após fazendeiros assassinarem Chico Mendes, lembrou do amigo e dos seus ensinamentos.

“Ele era uma figura extremamente inspiradora, tinha uma capacidade incrível de fazer as pessoas se envolverem no movimento. Eu sou muito grato por isso. Quase 31 anos depois de sua morte tenho absoluta certeza que um bando de jovem que milita nessa causa é em razão da mensagem que ele pregou na época”, disse Júlio Barbosa, que foi o primeiro presidente da CNS, lugar que também seria ocupado por Chico Mendes.

Atualmente, por causa da luta do CNS, 10% da região Amazônia, cerca de 60 milhões de hectares, são de reservas extrativistas que usam de modo sustentável os recursos naturais. Porém, Júlio Barbosa diz que os desafios atuais são tão grandes quanto daquela época.

“Nós temos centenas de territórios criados, seja reserva extrativista, seja reserva de desenvolvimento sustentável (RDS), projetos de assentamentos agroextrativistas ou terra quilombola, mas todos, sem exceção, incluindo desde a Reserva Chico Mendes, todos ainda têm problemas de regularização fundiária”, disse.

Governo Bolsonaro

O líder extrativista diz que o enfrentamento ao governo Bolsonaro é o grande desafio do movimento. Segundo ele, o governo tem uma visão equivocada na área por achar que as políticas ambientais são empecilhos para o agronegócio.

“O Brasil é um país continental. Nós não podemos olhar apenas para o agronegócio. A Amazônia é muito importante e tem uma população que trabalha valorizando a floresta, os produtos da sociobiodiversidade. Acho que com esse governo nossos desafios são maiores, porque não podemos deixar que nosso legado construído com muito sacrifício seja destruído por um governo que não tem noção do que está dizendo sobre os povos da Amazônia”, criticou.

Outra contemporânea de Chico Mendes, Júlia Feitoza da Silva Dias, 65 anos, diz que o amigo morto pelos fazendeiros tinha uma capacidade “extraordinária” de dialogar e uma visão além do seu tempo.

“A gente avançou bastantes nos períodos de vários governos. Agora, a gente está correndo um risco imenso de perder tudo aquilo que foi conquistado, muita gente morreu por essas conquistas”, lamentou.

Nesta quinta-feira (7), as lideranças extrativistas estarão reunidas com os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).