‘Pedido de prisão de Dilma tenta encobrir escândalos do clã Bolsonaro’
Após o clã Bolsonaro ser mencionado nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco, tentar obstruir o trabalho da Justiça, estar enrolado em esquemas envolvendo candidaturas laranjas e “rachadinhas”, uma nova onda de destemperos envolvendo a família do presidente estourou na imprensa e nas redes sociais para desviar o foco das ações da família.
Por Christiane Peres, do PCdoB na Câmara
Publicado 06/11/2019 15:08
Um “novo AI-5” – que rendeu pedido de cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no Conselho de Ética da Câmara – foi a bola da vez na última semana. Nesta, o novo factoide foi patrocinado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, chefe da Polícia Federal.
Na terça-feira (5), depois da entrega de um novo pacote de maldades no Congresso e falas atrapalhadas do ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmando que os ricos sabem capitalizar seus recursos, enquanto os pobres não poupam, e às vésperas da entrega do pré-sal, um pedido da Polícia Federal ao relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, ganhou destaque.
Era a prisão temporária da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega (PT), dos ex-senadores Eunício Oliveira (MDB-CE) e Valdir Raupp (MDB-RO) e do ministro Vital do Rêgo Filho, do Tribunal de Contas da União (TCU). O motivo: suposto envolvimento em inquérito que apura a “compra e venda” do apoio político do MDB em benefício do PT nas eleições presidenciais de 2014.
Os pedidos foram negados por Fachin, mas Moro voltou a ser alvo de críticas por sua postura persecutória. Para deputados comunistas, Moro tenta criar factoides para tirar o foco do clã Bolsonaro.
“Uma clara tentativa de desviar o foco do envolvimento do governo no caso Marielle, no caso Queiroz, nas fake news. Trata-se de abuso de autoridade e uma oportuna cortina de fumaça. Inaceitável”, afirmou a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA).
Líder da Minoria na Câmara, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) questionou o andamento do processo e a rapidez da ação. “Como podem pedir prisão num processo no qual a presidenta não é investigada e nunca foi chamada a prestar qualquer esclarecimento? Perseguição de Moro! Cortina de fumaça para os escândalos de seu chefe, Bolsonaro!”, afirmou.
Na mesma linha de pensamento, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) afirmou que Moro “tenta a todo custo criar factoide para tirar o foco do patrão dele, Bolsonaro, enrolado com os laranjas e agora citado na morte da vereadora Marielle” e usou a hashtag #MoroPerseguidor para classificar o ministro em sua postagem no Twitter.
Para o vice-líder comunista, deputado Márcio Jerry (MA), Moro segue o roteiro. “É incorrigível no desprezo às legalidades, viciado em dirigir ações para adversários. De forma cínica e fria desdenha da democracia”, acusou o parlamentar.
Em nota, a ex-presidente Dilma também reagiu à investida de Moro. Afirmou que a informação era “estarrecedora” e que também revelava “o esforço inconsequente do ministro da Justiça, Sergio Moro, no afã de perseguir adversários políticos”.
“O pedido de prisão é um absurdo diante do fato de não ser ela mesma investigada no inquérito em questão. E autoriza suposições várias, entre elas que se trata de uma oportuna cortina de fumaça. E também revela o esforço inconsequente do ministro da Justiça, Sergio Moro no afã de perseguir adversários políticos. Sobretudo, torna visível e palpável o abuso de autoridade. Ainda bem que prevaleceu o bom senso e a responsabilidade do ministro responsável pelo caso no STF, assim como do próprio Ministério Público Federal”, pontuou Dilma na nota.
Democracia na berlinda
A ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB) analisou os fatos como uma ameaça â democracia. “Um delegado amigo de Moro pede a prisão de Dilma num inquérito que ela sequer é investigada. A democracia está mesmo na berlinda. Querida Dilma receba meu abraço solidário”, escreveu ela no Twitter.
O deputado Rogério Correia (PT-MG) diz que o pedido da prisão não apresenta sequer os motivos.
“Tudo tão espalhafatoso e surreal que até o lavajatista Edson Fachin negou. Sergio Moro é a figura mais perigosa e nefasta da Nação, mais até do que seu chefe, o que muitos julgavam ser impossível”, disse o parlamentar.
Guilherme Boulos, ex-candidato à Presidência da República pelo PSOL, classificou o episódio como escandaloso.
“Primeiro, porque Dilma sequer foi intimada ou ouvida na ação. Segundo, porque revela de modo cabal que a PF virou a polícia política de Moro. Ele não tem nenhuma condição de permanecer no Ministério da Justiça. Tem que sair”, defendeu.