Nem Doria, nem Luciano Huck: mercado já sonha com Paulo Guedes em 2022
O mercado já tem seu candidato para a sucessão de Jair Bolsonaro (PSL) em 2022. É o que aponta Ascânio Seleme em sua coluna desta quinta-feira (7) no jornal O Globo. Segundo ele, o próprio presidente tende a ser descartado “diante das trapalhadas sem fim”. Nomes alternativos à direita, como o tucano João Doria e o apresentador Luciano Huck, ainda não se consolidaram. O nome que sobressai, assim, é o do ministro Paulo Guedes, símbolo do renascimento do neoliberalismo no País.
Publicado 07/11/2019 12:41
Para Seleme, o superministro do governo Bolsonaro se cacifou por sua agenda de reformas – que atende aos interesses do mercado, à custa do empobrecimento do povo, do desmonte do Estado e da estagnação do País. O colunista do Globo resume como os empresários – e, em especial, os rentistas – passaram a ver o ministro nesta semana: “O pacote de Paulo Guedes, apesar de ter alguns problemas, credencia o seu criador a postular mais adiante o principal cargo do país. As medidas apresentadas na terça-feira aliadas à reforma da Previdência transformam o ministro da Economia na persona que se buscava.”
Não se trata de uma notícia, uma mera nota. Ascânio Seleme parece avalizar a aposta e não esconde a empolgação com o gestor que tenta obstinadamente dilapidar direitos trabalhistas e sociais: “Guedes, que assumiu o papel de missionário do liberalismo, sabe muito bem o que está fazendo, aonde quer chegar, e em quanto tempo. Ele trabalha com metas, e vem atingindo todas nos primeiros dez meses de governo. Muito certamente o pacote será modificado e abrandado pelo Congresso, mas o ministro já pavimentou bem sua relação com as principais lideranças do Congresso”.
Outro ponto destacado pelo colunista é a diferença Bolsonaro e Guedes – presidente e ministro, patrão e funcionário: “Até parece que foi Guedes, e não Bolsonaro, que exerceu sete mandatos consecutivos na Câmara. Já se viu na tramitação da reforma da Previdência que Bolsonaro atrapalhou mais do que ajudou na sua aprovação. Enquanto isso, Guedes foi a cada uma das comissões que o convocaram nas duas casas para esmiuçar e defender sua proposta”.
Sobre o pacote anunciado nesta semana, mais elogios rasgados: “O novo pacote de Guedes ainda será seguido de outras medidas, mas o que ele quer fazer agora é uma ampla e sem precedentes reforma do Estado. Há aspectos positivos e negativos no pacote, mas não se pode negar que a iniciativa foi corajosa”, escreve o colunista do Globo. Seguem-se dois ou três parágrafos de exaltação às medidas do pacote para “reduzir o Estado”.
Assim, caso a nova reforma neoliberal vá adiante, serão atingidas não apenas a economia brasileira e a administração pública federal – mas também o cenário político-eleitoral. “Caberá ao Congresso encontrar um meio-termo. De qualquer modo, se o pacote for aprovado, mesmo desidratado, o dono da bola será Paulo Guedes”, suspira Ascânio Seleme. “Seus méritos estarão delineados e servirão para balizar a eleição presidencial de 2022. Sua habilidade em negociar e a oratória contundente que o distingue serão aliadas fortes agora, nos entendimentos com o Congresso, e em 2022, no embate eleitoral”.
Mas… e os rivais? Contra Doria ou Huck, como o ministro pode se firmar como “o nome” dos “muitos que já se arrependeram de ter votado em Bolsonaro e buscam alternativas”? O colunista esclarece: “Se [Paulo Guedes] for candidato, como já sonha o mercado, correrá na mesma raia que João Doria e Luciano Huck. O contêiner de novidades que vai introduzindo na economia nacional pode ser sua maior alavanca em 2022. Mas tem que dar resultados, seus efeitos precisam ser sentidos nos próximos dois anos e meio. Só assim o sonho do mercado será viável”.