Cúpula dos BRICS refletiu diplomacia canhestra de Bolsonaro

O Brasil como anfitrião e sob o governo Bolsonaro foi uma espécie de carta fora do baralho.

BRICS

Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que acaba de concluir sua cúpula em Brasília, reafirmaram seus princípios, sem deixar de revelar divergências. O presidente Jair Bolsonaro foi uma voz dissonante na reunião que contou com os dirigentes da China (Xi Jinping), da Rússia (Vladimir Putin), África do Sul (Cyril Ramaphosa) e da Índia (Narendra Modi)

O Brasil como anfitrião e sob o governo Bolsonaro foi uma espécie de carta fora do baralho. O país, que renunciou à tradicional diplomacia multilateral brasileira para selar uma aliança com Donald Trump, não mostrou interesse em transformar essa cúpula em uma plataforma de liderança regional. A posição pró-golpe do governo brasileiro sobre a Venezuela resultou na não convocação da cúpula de líderes regionais que geralmente acompanha as reuniões do Brics.

A declaração final refletiu esse cenário ao não incluir nenhuma referência à crise que tem agitado o continente americano. Os negociadores preferiram evitar assuntos em que as divergências são maiores que as convergências. O documento menciona, por outro lado, os conflitos na Síria e no Afeganistão, a crise humanitária no Sudão, a guerra no Iêmen e as tensões na Coreia do Norte. Os negociadores brasileiros explicaram que esses são “conflitos de envergadura global”.

Palestina

Xi Jinping criticou o crescente protecionismo que está levando à desaceleração da economia mundial. “O aumento do protecionismo e unilateralismo cria déficit de desenvolvimento de governança, de conhecimento, e crescentes incertezas, que são fatores de desestabilização na economia mundial”, avaliou. O presidente chinês se referiu à guerra comercial e tecnológica dos Estados Unidos contra Pequim, sobre a qual Bolsonaro não quis se posicionar.

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, defendeu a exportação de produtos de maior valor agregado, pelos países emergentes, como forma de erradicar a miséria e o desemprego. Putin enfatizou a necessidade de a economia decolar "para melhorar a qualidade de vida de nossas sociedades".

Já o primeiro-ministro Narendra Modi conclamou os seus parceiros a se envolverem plenamente com os Brics e os incentivou a estabelecer "metas mais ambiciosas, identificar prioridades" e definir prazos e objetivos a serem cumpridos.

A falta de consenso também fez com que os países do Brics não incluíssem na declaração qualquer menção à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês). Aliado do governo de Israel, o Brasil de Bolsonaro vetou iniciativas no sentido de ampliar o apoio a essa agência, ainda que defenda sua existência.